sexta-feira, 8 de abril de 2011

HISTÓRIA

Apartheid Origem

Origem histórica da segregação racial na África do Sul

Renato Cancian*
Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação
Reprodução
Para uso de pessoas brancas, diz a placa da época do apartheid

O termo apartheid significa "separação" ou "identidade separada". Serviu para designar o regime político da África do Sul que, durante décadas, impôs a dominação da minoria branca (ou aristocracia branca) sobre grupos pertencentes a outras etnias, compostos em sua maioria por negros.

O apartheid não deve ser interpretado como simples "racismo", pois ele foi um sistema constitucional de segregação racial que abrangeu as esferas social, econômica e política da nação sul-africana estabelecendo critérios para diferenciar os grupos.

A origem histórica do apartheid é bem antiga e remonta ao período da colonização da África do Sul. Os primeiros colonizadores bôeres (também denominados de afrikaner) compunham-se de grupos sociais europeus que vieram da Holanda, França e Alemanha e se estabeleceram no país nos séculos 17 e 18.

Ideologia nacionalista

Esses colonizadores dizimaram as populações autóctones (grupos tribais indígenas) e tomaram suas terras. Os líderes afrikaners manipularam e converteram um preceito religioso cristão, que a princípio estabelecia a segregação como uma forma de defender e preservar as populações tribais da influência dos brancos, em uma ideologia nacionalista que pregava a desigualdade e separação racial.

Os afrikaners se consideravam a verdadeira e autêntica nação (ou volk, que em alemão significa povo). A cor e as características raciais determinaram o domínio da população branca sobre os demais grupos sociais e a imposição de uma estrutura de classe baseada no trabalho escravo.

Política racial

Nas regiões dominadas por eles estabeleceu-se uma política racial que diferenciou os europeus (população branca) dos africanos (que incluía todos os nativos não-brancos, também conhecidos por bantus). Até mesmo aqueles grupos sociais compostos por imigrantes asiáticos, em particular indianos, sofreram com a política de discriminação racial.

Seria engano supor que a expansão do domínio dos afrikaners sobre a população não-branca da África do Sul foi um processo livre de conflitos. Pelo contrário, houve muitas guerras com as populações tribais que ofereceram resistência aos brancos, entre elas as tribos xhosa, zulu e shoto.

No início do século 20, a África do Sul atravessou um intenso processo de modernização que intensificou os conflitos entre brancos e não-brancos. Não obstante, a minoria branca soube explorar os conflitos intertribais que afloravam entre os diferentes grupos étnicos e isso de certo modo facilitou a avanço e domínio dos afrikaners.

Apartheid

Auge e declínio do regime do Apartheid sul-africano

Renato Cancian*
Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação
Divulgação/ANC
O líder anti-apartheid Nelson Mandela, que presidiu a África do Sul ao fim do regime segregacionista
O apartheid foi estabelecido oficialmente na África do Sul em 1948 pelo Nationalist Party (Partido dos Nacionalistas) que ascendeu ao poder e bloqueou a política integracionista que vinha sendo praticada pelo governo central.

O Nationalist Party representava os interesses das elites brancas, especificamente da minoria boere. Após 1948, o sistema de segregação racial atingiu o auge. Foram abolidos definitivamente alguns direitos políticos e sociais que ainda existiam em algumas províncias sul-africanas.

As diferenças raciais foram juridicamente codificadas de modo a classificar a população de acordo com o grupo social a que pertenciam. A segregação assumiu enorme extensão permeando todos os espaços e relações sociais. Os casamentos entre brancos e negros foram proibidos.

Os negros não podiam ocupar o mesmo transporte coletivo usado pelos brancos, não podiam residir no mesmo bairro e nem realizar o mesmo trabalho, entre outras restrições. Os brancos passaram a controlar cerca de 87% do território do país, o que sobrava se compunha de territórios independentes, mas paupérrimos, deixados aos grupos sociais não-brancos.

Declínio do apartheid

O apartheid é o único caso histórico de um sistema onde a segregação racial assumiu uma dimensão institucional. Essa situação permite definir o governo sul-africano como uma ditadura da raça branca.

Na década de 1970, o governo da África do Sul tentou em vão encontrar fórmulas que pudessem assegurar certa legitimidade internacional. Porém, tanto a ONU (Organização das Nações Unidas) como a Organização da Unidade Africana, votaram inúmeras resoluções condenando o regime.

No transcurso dos anos 70, a África do Sul presenciou inúmeras e violentas revoltas sociais promovidas pela maioria negra, mas duramente reprimidas pela elite branca. Sob o governo de linha dura, liderado por Peter. W. Botha (1985-1988), tentou-se eliminar os opositores brancos ao governo e as revoltas raciais foram duramente reprimidas.

Porém, as revoltas sociais se intensificaram bem como as pressões internacionais. Em 1989, Frederic. W. de Klerk, assumiu a presidência. Em 1990, o novo presidente conduz o regime sul-africano a uma mudança que põe fim ao apartheid. Neste mesmo ano, o líder negro Nelson Mandela, que desde 1964 cumpria pena de prisão perpétua, é posto em liberdade. Nas primeiras eleições livres, ocorridas em 1993, Mandela é eleito presidente da África do Sul e governa de 1994 a 1999.
 

Árabes e judeus

Relacionamento marcado por tensões e conflitos

Jayme Brener*
Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação
O conflito entre árabes e judeus é relativamente recente, ao contrário do que muitos acreditam. Até o final do século 19, judeus e diferentes povos árabes viviam como "primos" (o que supõe, claro, conflitos ocasionais), e não só no Oriente Médio. A convivência se estendeu, por exemplo, à Espanha, ocupada pelos árabes até o fim do século 15.

Os problemas ganharam corpo com a crise dos grandes impérios, ao término do século 19, que permitiu o avanço de inúmeros movimentos nacionalistas. Isso tanto no Império Russo como no Império Turco-Otomano e no Império Austro-Húngaro.

Entre os novos movimentos estavam o nacionalismo árabe, que defendia a criação de um grande Estado árabe independente dos turcos; e o movimento sionista, defensor da volta dos judeus à Palestina - dispersos por todo o mundo desde a destruição de seu Estado independente, no início da era cristã.

A 1ª Guerra Mundial (1914-1918) selou o fim dos grandes impérios e redesenhou o mapa do Oriente Médio, que antes era dominado pelos turcos. Os ingleses receberam um mandato da Liga das Nações para ocupar por 30 anos os atuais Iraque, Jordânia e Palestina. A França ficou com o que hoje são a Síria e o Líbano.

Entre os judeus, a maioria vivendo na Europa Oriental e na América do Norte, o sionismo era bastante minoritário. As correntes políticas mais fortes eram as compostas pelos socialistas - defensores da integração dos judeus à luta dos trabalhadores contra o capital -, pelos liberais - favoráveis à integração da população judaica em cada país -, ou, ainda, pelos religiosos ortodoxos.

O problema é que, para conquistar o apoio dos árabes contra os turcos na 1ª Guerra, assim como o respaldo dos judeus nos impérios Russo e Austro-Húngaro, e também nos Estados Unidos, a Grã-Bretanha prometeu a mesma coisa aos dois lados. Aos árabes, um grande Estado independente, o que suporia a inclusão da Palestina. E aos judeus, um "lar nacional" na Palestina.

As duas comunidades passaram então a disputar espaço na Palestina sob mandato britânico. Os sionistas traziam jovens pioneiros da Europa Oriental para cultivar terras compradas dos árabes por milionários judeus. E os nacionalistas árabes lançavam ataques armados contra as novas comunidades judaicas. Os britânicos ficavam no meio do caminho, ora limitando a imigração judaica, ora restringindo os ataques dos militantes árabes.

Massacre na Europa

Tudo mudou com a 2ª Guerra Mundial (1939-1945), quando mais de seis milhões de judeus foram massacrados pelos nazifascistas na Europa, ao lado de milhões de russos, poloneses, homossexuais, dissidentes políticos e deficientes físicos e mentais. No final da guerra, com a Europa arrasada, o sionismo tornou-se rapidamente majoritário entre os judeus sobreviventes.

Com a retirada das tropas britânicas da Palestina marcada para 1947, os sionistas - que contavam com a simpatia da opinião pública mundial, devido ao massacre dos judeus na guerra - conseguiram costurar o apoio dos dois grandes vencedores do conflito, União Soviética e Estados Unidos, à divisão do território.

A Assembleia Geral da ONU, então presidida pelo ex-chanceler brasileiro Oswaldo Aranha, votou pela partilha da Palestina em dois estados - um árabe e outro judeu. Em maio de 1948, o futuro primeiro-ministro David Ben Gurion anunciou a criação do Estado de Israel. O mundo árabe não aceitou a partilha e, nos dias seguintes, sete estados árabes declararam guerra a Israel, que foi invadido por cinco exércitos. Valendo-se da divisão do mundo árabe, os israelenses venceram a guerra e expulsaram muitos palestinos do que deveria ser seu Estado.

Desde então, houve três grandes guerras entre Israel e os países árabes: em 1956, 1967 e 1973. Na Guerra dos Seis Dias, em 1967, Israel ocupou a Faixa de Gaza e o deserto do Sinai, que pertenciam ao Egito, as colinas do Golan (Síria), as fazendas de Shebaa (Líbano), Jerusalém Oriental e a Cisjordânia (Jordânia).

Em 1979, Israel assinou a paz com o Egito, que recebeu de volta o Sinai. Nunca mais o mundo árabe conseguiria unir-se contra o Estado judeu. Sucessivos governos israelenses incentivaram a criação de colônias judaicas nos territórios ocupados, principalmente a Cisjordânia.

Intifadas

A resistência palestina optou então pela luta armada, lançando mão por vezes do terrorismo - com ataques a alvos civis dentro e fora de Israel. O resultado foi pouco alentador e o terrorismo até reforçou a posição de Israel, que tem nos Estados Unidos seu principal aliado. Em 1987, explodiu uma revolta popular contra os israelenses na Faixa de Gaza e na Cisjordânia, inicialmente fora do controle da Organização pela Libertação da Palestina (OLP) e de seu principal líder, Yasser Arafat. A rebelião ficou conhecida como intifada, sobressalto, em árabe.

A reação violenta do exército israelense, que matou centenas de pessoas em poucos dias, desgastou a posição do país. Em seguida, Arafat prometeu desistir da luta armada em favor de negociações políticas que conduzissem à criação de um Estado palestino. Em 1991, sob pressão dos EUA, que enfrentavam a ira das massas árabes por conta da invasão do Iraque, naquele mesmo ano, o então primeiro-ministro ultraconservador de Israel, Itzhak Shamir, aceitou iniciar tímidas negociações de paz com os palestinos, na Conferência de Madrid.

Mas o sucessor de Shamir, Itzhak Rabin, levou as negociações à frente e, em 1993, assinou com Yasser Arafat os acordos de Oslo, com apoio da Casa Branca. O acordo previa a criação da Autoridade Palestina, embrião de um futuro governo palestino na Cisjordânia e na Faixa de Gaza. Os limites territoriais e a espinhosa questão de Jerusalém - que é reivindicada como capital por israelenses e palestinos - deveriam ser resolvidos nos anos seguintes. Israel também assinou a paz definitiva com a vizinha Jordânia.

As negociações com os palestinos evoluíram com extrema dificuldade, mas, no fim dos anos 90, parecia que a paz estava próxima, em torno de uma proposta israelense que incluía uma complexa equação para permitir a soberania compartilhada sobre Jerusalém. Também parecia próximo um acordo sobre a troca de territórios entre Israel e palestinos para resolver o problema dos quase 200 mil colonos judeus que vivem na Cisjordânia.

Arafat, porém, acreditou que o momento era favorável para aumentar as demandas e apresentou a exigência de realocação, no atual Israel, de milhões de palestinos que haviam perdido suas terras e casas após 1948. O governo israelense não aceitou, as conversações de paz foram por água abaixo e um passeio de outro primeiro-ministro ultraconservador, Ariel Sharon, pela Esplanada das Mesquitas, local sagrado para os muçulmanos em Jerusalém, detonou a segunda intifada, em 2000.

De lá para cá, a paz entre judeus e palestinos tem parecido cada vez mais distante. A OLP, que defendia um acordo com Israel, perdeu espaço nos territórios ocupados para o movimento fundamentalista islâmico Hamas, que tem apoio do Irã e da Síria e rejeita a paz com o Estado judeu. E o cenário político israelense deslocou-se para a direita, com as forças pacifistas perdendo espaço.

Grupos palestinos lançaram mão outra vez do terror, acionando homens (e mulheres) bombas contra alvos civis em Israel. Os israelenses reagiram construindo um imenso muro de proteção que isola suas cidades e estradas dos núcleos residenciais palestinos.

Em 2006, Israel lançou um sangrento ataque contra o Líbano, a propósito de estancar os disparos de foguetes do Hizbolá, facção xiita que tem o apoio da Síria e do Irã. Dois anos depois, também para pôr fim a ataques de foguetes contra seu território, Israel invadiu a Faixa de Gaza, deixando centenas de mortos.

Pouco mais de cem anos depois do nascimento do nacionalismo árabe e do sionismo, as perspectivas de paz entre Israel e seus vizinhos árabes parecem muito distantes. As negociações entre israelenses e palestinos estão paralisadas, assim como qualquer conversa entre Israel, Síria e Líbano. Fala-se até em um novo ataque de Israel contra o Hizbolá libanês, que vem recebendo de sírios e iranianos mísseis capazes de atingir as principais cidades israelenses.

Pior: nos últimos anos um novo player desponta no tabuleiro político regional. Trata-se do Irã, cujo governo é abertamente hostil a Israel e aos EUA, e está engajado em um imponente programa nuclear.

Como se vê, essa história ainda nos reserva muitos capítulos antes do epílogo que todos juram perseguir: a paz duradoura no Oriente Médio.

Astecas

Religião e organização social no Império Asteca

Túlio Vilela*
Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação
Reprodução
Vaso representa Tláloc, o deus da chuva e do trovão

Quais eram os deuses cultuados pelos astecas?

Os astecas eram politeístas, isto é, acreditavam em vários deuses. No início, a religião dos astecas era muito simples, mas foi se tornando mais complexa quando eles foram entrando em contato com outros povos vizinhos, dos quais foram incorporando novos elementos. A lista de divindades cultuadas pelos astecas era bastante extensa. Seria praticamente impossível, e sem propósito, falar a respeito de cada uma delas aqui.

Quais algumas das mais importantes?

Quetzacoatl, a serpente de plumas, no início, era uma divindade que representava a fertilidade e, com o passar do tempo, se transformou, passando a representar as ideias de morte e ressurreição; Tezcatlipoca, deus da noite, era invisível e sedento por sangue humano; Tláloc, deus que trazia tanto a chuva, que tornava os campos férteis, quanto o trovão e o granizo; Huitizilopchtli, deus guerreiro que representava o Sol do meio-dia; Xipe-Totec, divindade dos ourives, e que se revestia com a pele de um homem esfolado.

Como e quando surgiu a civilização asteca?

Pouco se sabe a respeito dos primeiros tempos desse povo. Na verdade, o povo que chamamos de "asteca" chamava a si mesmo de "mexica" e era chamado pelos espanhóis de "mexicas". A palavra "asteca" surgiu de aztecatl, que na língua nativa falada pelo povo Mexica designava os que vinham de Aztlán, lugar que, segundo a lenda, era a terra natal do povo mexica. A partir do século 19, autores europeus começaram a usar o termo "asteca", que também foi incorporado por historiadores mexicanos para distinguir os habitantes do México atual dos que viviam na região antes da chegada dos espanhóis. Hoje, o termo "asteca" geralmente é usado para designar todos os habitantes do império fundado pelo povo mexica.

O que se sabe sobre a origem dos astecas?

Segundo a maioria dos historiadores, os astecas deixaram sua região de origem por volta do século 12. Após uma longa caminhada, teriam chegado ao vale de Anahuac (atual vale do México), que era bastante fértil, e ocuparam as ilhas a oeste do lago Texcoco, pois as do lado leste já eram habitadas. Há controvérsias quanto ao local de origem desse povo: a maioria dos estudiosos acredita que o mais provável era o norte do vale do Anahuac (atual Vale do México), outros acreditam que o local de origem dos astecas ficava ainda mais ao norte, no que hoje é o sudoeste dos Estados Unidos. Entretanto, outros estudiosos acreditam que Aztlán não passa de um lugar mítico. Seja como for, na época da chegada dos astecas ao vale existiam várias cidades-Estado. Nessa época, eles absorveram muitos elementos da cultura dos habitantes da cidade-Estado de Culhuacán.

Que momento pode ser considerado um marco decisivo para essa civilização?

Em 1325, os astecas ou mexicas fundaram a cidade de Tenochtlán. A primeira construção da cidade foi o templo, ao redor do qual construíram-se casas, palácios e mercados. Conforme a cidade cresceu, os astecas passaram a atacar e dominar outras povos da região, dentre os quais, os toltecas e os olmecas. O que se tornou conhecido como Império Asteca nasceu da aliança de Tenochtlán com outras duas cidades: Texcoco e Tlacopán.

Existe semelhança entre o modo de os astecas estabelecerem seu império e outros impérios do mundo antigo?

Geralmente, para evitar guerra e destruição, ao chegarem a uma cidade que pretendiam dominar, os astecas propunham que o povo do lugar se rendesse sem resistência. A razão disso era muito simples: o Império Asteca sobrevivia dos impostos cobrados nas cidades dominadas; como esses impostos não eram na forma de dinheiro, mas de produtos (peças de algodão, ouro em pó, artesanato, cogumelos alucinógenos...), não interessava aos astecas que as cidades que eles pretendiam dominar fossem destruídas.

Quantas pessoas viviam no Império asteca na época em que os espanhóis chegaram?

Não se sabe o número exato de habitantes do Império asteca naquela época, mas uma coisa é certa: para os padrões de então, a população do Império era numerosa. Estima-se que, antes da chegada dos espanhóis, havia cerca de 15 milhões de habitantes. Nos anos de 1520 e 1521, o número de habitantes caiu para cerca de quatro milhões, a principal causa dessa queda foi uma epidemia de varíola (o que facilitou a conquista pelos espanhóis). Mas mesmo com essa queda, a população do Império asteca ainda era numerosa se comparada com a de outros países na mesma época. Só para se ter uma ideia, em Tenochtán, viviam cerca de 250 mil pessoas, ou seja, a capital do Império asteca tinha mais habitantes do que várias cidades europeias na mesma época, dentre as quais, Londres e Madri. Após a chegada dos espanhóis, houve uma drástica queda na população que habitava os territórios do que havia sido o Império Asteca: em 1581, a população indígena era inferior a dois milhões de habitantes. Essa queda vertiginosa da população foi decorrente da violência da conquista espanhola, que veio acompanhada de fome e doenças.

Quais eram os principais grupos que formavam a sociedade asteca?

A sociedade asteca era bastante hierarquizada. As roupas indicavam a posição social da pessoa. Quem governava era o imperador, chamado de tlatoani (palavra que significava "aquele que fala" ou "aquele que comanda"). No início, o tlatoani era eleito por uma assembleia de guerreiros, mas, com o tempo, a função passou a ser hereditária, isto é, passava de pai para filho. Entre as responsabilidades do imperador estava a de fornecer alimentos para a população necessitada em períodos de seca ou carestia. Havia também uma espécie de "vice-imperador", o cinacoatl, cargo que era geralmente exercido por um irmão do imperador.

O que vinha abaixo deles?

Os nobres, grupo do qual faziam parte funcionários públicos encarregados da administração, sacerdotes e líderes militares. Geralmente, esses nobres eram parentes do imperador. Entre as tarefas dos sacerdotes, que eram celibatários [não podiam se casar], estava cuidar dos tempos, consultar os astros e guardar manuscritos. Embora não tivessem tarefas administrativas ou militares, os sacerdotes eram um grupo privilegiado, pois, assim como os outros nobres, eles também não eram obrigados a pagar impostos.

E abaixo dos nobres?

Abaixo dos nobres estavam os comerciantes e artesãos, que passavam o ofício de pai para filho. Entre os artesãos existiam ourives, joalheiros e os que trabalhavam com plumas. Cada grupo de artesãos era obrigado a pagar um imposto, que consistia em entregar parte do que se produzia. Apesar disso, eram bem remunerados e muito respeitados. Um dos privilégios dos artesãos é que eles estavam dispensados do trabalho obrigatório nas obras públicas (construção de pontes e templos etc.). Por sua vez, os comerciantes estavam divididos em dois grupos: o comércio local estava nas mãos das pessoas de origem humilde, enquanto o comércio exterior de artigos de luxo estava nas mãos dos grandes comerciantes. Esses grandes comerciantes ocupavam uma posição privilegiada na sociedade asteca, abaixo apenas da nobreza, e tinham um papel importante no expansionismo asteca: ao visitarem as cidades que os astecas pretendiam dominar, eles passavam aos líderes militares astecas informações valiosas a respeito das condições de defesa dessas cidades.

Quem constituía a base da pirâmide social?

Os maceualtin eram os cidadãos comuns, que constituíam a maioria da população. Os que eram agricultores não trabalhavam apenas nas terras para sua própria subsistência, mas também nas terras destinadas ao abastecimento dos nobres. Os maceualtin eram obrigados a trabalhar nas obras públicas. Também podiam ser obrigados a prestar o serviço militar, que, diga-se de passagem, era uma das poucas formas disponíveis de um cidadão comum ascender na sociedade asteca.

Existiam escravos entre os astecas?

Havia a classe dos tlatlacotin, que era formada por prisioneiros de guerra, condenados pela justiça civil, pessoas com dívidas de jogo (ou arruinadas pela bebida) e estrangeiros, remanescentes de povos que foram conquistados ou dizimados pelos astecas. A palavra tlatlacotin costuma ser traduzida por "escravos", mas o termo é inexato. Para saldar uma dívida, eles podiam trabalhar para um senhor. Essa relação estava mais próxima da servidão do que da escravidão por dívidas, pois os tlatlacotin podiam morar em suas próprias residências; no caso dos homens, podiam se casar com mulheres livres, e seus filhos eram considerados livres.

Maias

Uma história de mistérios que ainda não acabou

Érica Turci*
Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação
A civilização Maia foi uma das mais importantes civilizações das Américas e as ruínas das suas cidades foram encontradas por exploradores europeus e norte-americanos em meados do século XIX. Como não existiam informações precisas sobre essa civilização, sua história acabou sendo envolvida por um grande mistério: como cidades tão grandiosas, com construções esplêndidas poderiam ter sido esquecidas e recobertas pela floresta? A partir de então, inúmeras teorias surgiram para explicar quem teria sido os povos que ali viviam, muitas delas sem nenhum fundamento científico. Somente a partir de 1960 a civilização Maia começou a ser desvendada.

Ao contrário do que se pensa, os maias não eram um único povo, mas sim vários povos (etnias) que tinham a mesma origem linguística e cultural, e habitavam a América Central (sul do México, Guatemala, Belize, Honduras e El Salvador). Ainda não se sabe exatamente quando foi o início da ocupação desse território, as pesquisas arqueológicas demonstram que a agricultura já era praticada ali desde o 3º milênio a.C..

No 2º milênio a.C., as aldeias agrícolas começaram a se agrupar em torno de centros cerimoniais, para ali celebrarem suas festas religiosas e comerciarem, criando o que seriam as primeiras cidades da região. O trabalho agrícola durava quatro meses por ano, o que permitia que os camponeses pudessem se dedicar a outras atividades, principalmente a construções de templos e praças de comércio para o funcionamento dos centros cerimoniais.

Em torno do século 1 d.C., essas primeiras cidades faziam comércio entre si, e também com a distante Teotihuacan, no Vale do México, governada pelos olmecas. Muitos estudiosos acreditam que os olmecas influenciaram o desenvolvimento das cidades maias, já que muitas delas copiaram a estrutura arquitetônica e a organização política dos teotihuacanos.

As cidades-Estado

Com o tempo, tais centros urbanos se transformaram em centros administrativos e passaram a controlar as aldeias vizinhas. Os sacerdotes e os guerreiros assumiram o controle social e político dessas cidades. Eram sustentados pelos camponeses das aldeias, obrigados a pagar tributos, tanto em alimentos, quanto trabalhando na construção de templos, palácios, pirâmides, estradas, símbolos do poder da elite. Os comerciantes também faziam parte da elite dominante e controlavam o rico comércio de jade, obisidiana e cacau (esse fruto era muito importante na Mesoamérica, pois com ele fabricava-se o xocoatl, uma bebida exclusiva dos reis, e as suas sementes eram utilizadas como moeda pelos maias).

Esses inúmeros centros urbanos independentes, sustentados por dezenas de aldeias agrícolas ao seu redor, são a base da organização politica da Civilização Maia. Mesmo durante o período de maior desenvolvimento dos maias, o Período Clássico (entre os século 3 e 9 d.C.), não ocorreu a unificação entre as cidades, chamadas de cidades-Estado.

Hoje se conhecem mais de 40 dessas antigas cidades, ente elas: Tikal, Palenke, Calakmul, Uaxactun, Cobá, Copán, Piedras Negras, Uxmal. Muitas delas tombadas como Patrimônio Histórico da Humanidade pela Unesco. As cidades-Estado maias guerreavam constantemente umas com as outras, a fim de ampliar suas zonas de influência e, também, com o intuito de obter prisioneiros de guerra, que eram escravizados ou sacrificados em rituais religiosos.

A partir de 800 d.C., as mais importantes cidades-Estado maias foram sendo abandonadas uma a uma. Não se sabe com certeza quais as razões que levaram a isso, mas os historiadores acreditam que um conjunto de problemas atingiu os maias, obrigando-os a abandorem seus centros de poder:

  • o aumento populacional gerou necessidade de maior quantidade de alimento. Como a agricultura maia era feita através de queimadas e rotação de solo, rapidamente houve uma diminuição da fertilidade da terra, causando ondas de fome;

  • o fenômeno El niño e o desmatamento das florestas teriam causado uma série de mudanças climáticas na região, ocasionando a seca, que aumentou ainda mais a fome que já atingia as populações;

  • a fome ampliou as guerras entre as cidades, que lutavam por regiões férteis;

  • Teotihuacan, a cidade mexicana parceira comercial dos maias, entrou em declinio (não se sabe por que), o que teria atingido o comércio maia;

  • uma série de rebeleiões populares, devido à fome e à pobreza, teria ocorrido em várias cidades-Estado;

  • os guerreiros toltecas vindos do México conquistaram as cidades maias Chichén-Itzá e Uxmal, controlando quase todas as outras cidades em pouco tempo.

    Entre os séculos X e XVI, umas poucas cidades tentaram manter o controle sobre os povos maias, mas as guerras constantes e as crises econômicas não possibilitaram o "renascimento" da cultura maia, como tinha sido no Período Clássico. De qualquer forma, ao contrário do que se acredita, os maias jamais desapareceram. As grandes cidades foram abandonadas, mas as aldeias continuaram a abrigar os camponeses. Hoje em dia a língua maia ainda é falada por 7 milhões de pessoas e a cultura maia é presevada por centenas de povos da América.

    A cultura maia

    Por inúmeros motivos os maias são chamados de "Gregos do Novo Mundo". Como vimos antes, assim como os gregos antigos, os maias nunca formaram um Estado unificado. Além disso, o grande desenvolvimento artístico e científico fez com que os maias fossem comparados aquele povo antigo europeu.

    A arquitetura das grandes cidades maias conta com grandes templos, palácios e pirâmides em degraus. Apesar de essas construções conterem uma série de imperfeições (como paredes tortas, ângulos nem sempre corretos), o efeito que causa a sua grandiosidade serve aos seus propósitos: deixar o visitante pasmo com o poder do povo que ali habitava.

    A cerâmica maia está entre as mais refinadas do mundo. Os trabalhos feitos em pedras são primorosos, ainda mais por que os maias não utilizavam nem os metais para a confecção de seus monumentos e nem a roda para transportar as pedras (já que consideravam que a utilização de meios que facilitavam o trabalho retiraria dele seu valor sagrado).

    A escrita maia é uma das mais complexas do mundo, composta por fonogramas (símbolos que representam sons) e por ideogramas (símbolos que representam idéias). Pela complexidade acredita-se que somente a elite maia tinha acesso à leitura e a confecção da escrita, mas de qualquer forma, a escrita fazia parte do cotidiano nas grandes cidades. Estelas contando a história ou o feito de um rei faziam parte do cenário das praças públicas maias. Os livros maias (chamados hoje de códices) deveriam ser muitos no Período Clássico, mas quando os espanhóis dominaram a região destruiram todos os códices que encontraram. Hoje restam somente três códices conhecidos: o de Dresden, o de Madri e o de Paris.

    Atualmente 85% da escrita maia já foi decodificada, mas a cada nova descoberta arqueológica, novos símbolos aparecem, o que dificulta o trabalho dos pesquisadores.
    O mais famoso livro maia é o Popol Vuh, livro escrito por um dos povos maias, os quichés, e conta a origem do mundo segundo a religião maia.
    Os maias desenvolveram a matemática, chegando a conceber o conceito do número zero, muito antes que os europeus, que eles representavam com o símbolo de um cesto vazio. Também eram excelentes astrônomos, e sem qualquer instrumento de medição do tempo ou de observação, conheciam com exatidão o movimento da Terra, da Lua e de Vênus. Os maias desenvolveram três calendários, que eram usados simultaneamente:
     

  • o calendário lunar, que era utilizado pelos sacerdotes para as suas previsões e celebrações;

  • o calendário solar, dividido em 18 meses de 20 dias, ao que se somava cinco dias no final (chegando aos 365 dias);

  • o calendário venusiano (de Vênus), de contagem longa, a partir do qual calculava-se o tempo histórico, que segundo os maias teria se iniciado no ano 3114 a.C do calendário cristão.

    A religião

    "(...) Tratemos agora de criar seres obedientes, respeitosos, que nos sustentem e alimentem". (Popol Vuh, parte I, capítulo 2).

    Essa frase teria sido dita pelos deuses Tepeu e Gucumatz (também chamado de Kulkucán, a "serpente emplumada"), respectivamente o Criador e o Formador, quando resolveram criar o Homem. Depois de algumas tentativas, os deuses perceberam que os homens precisavam "de sangue, de substância, de umidade" para existirem plenamente, e dessa forma foi doado aos homens o sangue divino.

    A base da religiosidade maia pode ser entendida a partir dessa obrigação que os deuses tinham lhes imposto: os povos deveriam obedecer, respeitar e alimentar os deuses. E o alimento que mais contentava os deuses era o sangue, que eles próprios doaram aos homens, por isso os sacrifícios de animais e de seres humanos eram comuns. Às vezes nem era necessário que o homem fosse morto num ritual, o furo nas orelhas, na língua, nos dedos e a oferenda do sangue já era suficiente para alimentar as divindades.

    Outra característica da religiosidade maia era a crença num mundo cíclico, pois tudo se repetia eternamente. A cada 52 anos, quando os calendários solar e lunar voltavam conjuntamente ao ponto inicial, os mais acreditavam ter se encerrado um ciclo, e a partir da nova contagem de tempo tudo se repetiria.

    Hoje em dia muito se fala do final de mundo previsto pelos maias (em dezembro de 2012). Mas o que na realidade a cultura maia acreditava era que um ciclo terminaria nessa data, e outro se iniciaria.

  • Mesopotâmia

    Evolução econômica, política e militar

    Érica Turci*
    Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação
    Divulgação/Museu de Arqueologia-USP
    Reprodução de placa de argila com escrita cuneiforme

    Na Alta Mesopotâmia, região ocupada por uma das chamadas Civilizações Hidráulicas, as cheias dos rios Tigre e Eufrates ocorriam entre os meses de abril e maio, quando as geleiras das montanhas da Armênia derretiam e chegava a temporada das chuvas. Registros da época descrevem alagamentos que cobriam o solo "até onde os olhos não alcançam", muitas vezes destruindo tudo ao redor.

    As técnicas para controlar tais cheias se desenvolveram ao mesmo tempo em que a civilização chegou aos povos mesopotâmicos. O trabalho árduo, de todos os membros das aldeias, possibilitou a construção de obras hidráulicas, como muros de contenção, diques, canais de irrigação e poços de armazenamento de água para o período da seca.

    E exatamente por que esses trabalhos exigiam grande quantidade de pessoas em atividade constante (limpando, reformando, ampliando) e um bom planejamento, surgiram, por volta de 3.700 a.C, Estados centralizadores, que coordenavam tais tarefas.

    Estados teocráticos

    Especialistas na história da Mesopotâmia acreditam que os primeiros líderes políticos dessas cidades eram escolhidos por uma assembléia de cidadãos, já que a população que as habitava era pequena e cada família oferecia todos os seus membros aptos para as exaustivas tarefas nas obras de irrigação.

    A elite privilegiada era formada por sacerdotes que, a fim de aplacar a fúria dos deuses e impedir novos e graves alagamentos, arrebanhavam mão-de-obra para a construção de templos que serviam para o culto religioso e, também, como celeiro para o excedente de produção a ser oferecido ao panteão de divindades. Na prática, contudo, os grãos sustentavam os sacerdotes, representantes dos deuses na terra. Aos poucos, os reis foram sendo associados a essa elite religiosa, surgindo os Estados teocráticos.

    Economia e surgimento da escrita

    A agricultura floresceu às margens do Tigre e do Eufrates. A base da alimentação era composta por cereais, principalmente a cevada e, em segundo plano, o trigo. O linho e o algodão também eram plantados. Com as obras hidráulicas, o excedente agrícola possibilitava o sustento dos reis, de suas famílias e de um número cada vez maior de funcionários públicos.

    O comércio, à base de troca, também prosperou, pois a Mesopotâmia era (e ainda é) muito pobre em metais, pedras preciosas ou semipreciosas e madeira. Quanto mais a produção agrícola aumentava, mais os reis tinham condições de ir buscar em terras distantes produtos para ampliar a produtividade e ostentar seu poder.

    Além da agricultura, povos nômades viviam da criação do gado miúdo (cabras, ovelhas, porcos), o que complementava a alimentação e o comércio das cidades. Daí, também, ser necessária a contabilidade da receita que se ampliava. A escrita se desenvolveu, portanto, para controlar a produtividade. As primeiras plaquetas de argila que contêm a escrita cuneiforme demonstram claramente essa importância. E tais plaquetas estão entre as mais antigas formas de escrita do homem.

    Invasões e guerras

    Porém, todo esse desenvolvimento trouxe sérios problemas para essas primeiras cidades: a rivalidade pelas terras mais férteis e a cobiça dos povos vizinhos. Ao contrário de outra civilização que se desenvolvia ao mesmo tempo, o Egito, as condições geográficas da Mesopotâmia não ofereciam proteção natural, o que ocasionou várias ondas de ataques, principalmente de povos vindos do leste.

    Os mesopotâmicos tiveram que se armar. As lutas eram constantes, tanto entre as cidades, quanto contra os saqueadores e conquistadores externos. Os líderes políticos transformaram-se em líderes militares e, pela primeira vez na história, um exército regular passou a ser mantido pelo Estado.

    Segundo John Keegan, especialista em história militar, não foi o desenvolvimento técnico que fez os exércitos mesopotâmicos serem temidos, mas seu poder de organização, o que prova, mais uma vez, a capacidade de mobilização e de planejamento de suas cidades. Os registros mostram que, por volta de 2.500 a.C., as batalhas eram comuns na região. Elmos e armaduras (ainda muito primitivas) foram encontrados em vários sítios arqueológicos.

    No que diz respeito à arte da guerra, a Mesopotâmia tem uma vantagem geológica, pois possui uma reserva de estanho considerável. O estanho misturado ao cobre produz o bronze, metal muito mais duro do que o cobre, utilizado por muitos de seus inimigos.

    Os assírios

    Dentre os povos que governaram o vale dos rios Tigre e Eufrates, em se tratando da arte militar, os assírios se destacam. Povo rude, acostumado aos rigores do clima desértico, aprenderam rapidamente - com as tribos das estepes asiáticas - a usar o cavalo como arma de guerra, tornando-se aurigas temidos.

    O carro de guerra possibilitava dupla vantagem: a força animal, de ataque e locomoção, e a carroça (aperfeiçoada sobre duas rodas), que podia levar o condutor do animal e mais um arqueiro. Ao usarem seus carros de guerra (bigas) para conquistar a Mesopotâmia, não encontraram muita dificuldade, já que as infantarias das cidades quase nada podiam fazer para deter a força conjunta do cavalo e do arqueiro. Dessa forma, os assírios conseguiram dominar a Mesopotâmia e estender suas fronteiras para muito além do vale de seus rios.

    Mesmo assim, apesar de suas proezas tecnológicas, culturais e militares, marcos na evolução do homem, os povos da Mesopotâmia acabaram vencidos e conquistados pelos persas, uma civilização que tinha suas bases político-econômicas na expansão territorial

    Mesopotâmia - Cultura

    A Biblioteca de Nínive e Gilgamesh

    Érica Turci*
    Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação
    A Biblioteca de Nínive, um dos mais importantes legados da Mesopotâmia para a história, foi encontrada no século 19 por arqueólogos ingleses. Ela pertencia ao rei assírio Assurbanipal 2º (século 7 a.C.) e era composta por uma coleção de mais ou menos 25 mil plaquetas de argila (material usado para escrita na época), com textos em cuneiforme, muitos deles bilíngües, em sumeriano e acádico.

    Considerada a primeira biblioteca da história, a Biblioteca de Nínive guardava compilações de diversos tipos de texto: cartilhas sobre o mundo natural, geografia, matemática, astrologia e medicina; manuais de exorcismo e de augúrios; códigos de leis; relatos de aventuras e textos religiosos.

    Sabe-se que os mesopotâmicos tinham muito apreço pela escrita.
    Escolas para escribas (edubba) eram comuns nas cidades da época. Uma parábola babilônica dizia: "A escrita é a mãe da eloqüência e o pai dos artistas".

    O escriba tinha grande status na sociedade e, a se julgar pela quantidade de plaquetas de argila encontradas em diversos sítios arqueológicos, pode-se imaginar a importância que esse povo dava para o registro escrito. Tamanho acervo de documentos contribuiu muito para a compreensão da cultura da Mesopotâmia.

    Literatura

    A mais famosa obra literária da Mesopotâmia é a Epopéia de Gilgamesh. Gilgamesh é uma figura semilendária e teria sido rei da cidade-estado de Uruk, por volta de 2.700 a.C. Mas tudo que se conhece a respeito desse rei deve-se à epopéia construída em torno de seu nome, encontrada em 12 plaquetas de argila que constam do acervo da Biblioteca de Nínive.

    A lenda conta a grande amizade entre o rei Gilgamesh, culto e refinado, e Enkidu, um homem rude, nascido e criado no deserto. Juntos, os dois viajam por terras distantes, buscando aventuras e glórias. No entanto, Enkidu adoece e morre. E, a partir desse momento, Gilgamesh passa a buscar a imortalidade.

    Essa procura o leva até terras distantes, numa terrível e maravilhosa viagem, para encontrar Utnapishtim, homem abençoado pelos deuses com a imortalidade, após ter sobrevivido ao dilúvio. Utnapishtim, no entanto, faz com que Gilgamesh compreenda que a imortalidade não é característica dos homens:

    "Gilgamesh, onde queres chegar nas tuas andanças?
    A vida que estás procurando, nunca encontrarás.
    Pois, quando criaram os homens, os deuses decidiram
    Que a morte seria seu quinhão, e detiveram a vida em suas próprias mãos.
    Gilgamesh, enche o teu estômago,
    Faze alegres o dia e a noite,
    Que os teus dias sejam risonhos.
    Dança e toca música noite e dia,
    [...]
    Olha para o filho que está segurando a tua mão,
    E deixa que tua esposa encontre prazer nos teus braços.
    Só dessas coisas é que os homens devem cogitar."


    Segundo o especialista em assiriologia, Jean Bottéro (em matéria publicada no jornal O Estado de S. Paulo, Caderno 2, 02 de maio de 1996), "o autor da epopéia quis nos ajudar a encarar com coragem, com o exemplo de um fracasso tão grande, a inevitável interrupção de nossa vida".
     
     
     
     
     
     
     

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