sexta-feira, 8 de abril de 2011

Atualidade...

Tragédia no Japão

Tremor arrasa cidades e provoca crise nuclear

José Renato Salatiel*
Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação
Atualizado em 31/03/11, às 15h28.
Um terremoto de 9 graus na escala Richter, o mais forte já registrado no Japão, causou um tsunami que devastou a costa nordeste do país no dia 11 de março. Ondas de até 10 metros de altura arrastaram tudo que encontravam pela frente – navios, barcos, carros, casas e pessoas.

Direto ao ponto: Ficha-resumo

O número de mortos chega a mais de 4 mil, a maioria na província de Miyagi, localizada próximo ao epicentro. Outras 9.083 continuam desaparecidas. Cidades inteiras foram destruídas. Em outras localidades, faltam água, luz, alimentos e combustível.

O tsunami também danificou as instalações de usinas nucleares. No complexo de Fukushima Daiichi, uma das 25 maiores usinas do mundo, em quatro dias ocorreram três explosões na estrutura que abriga os reatores.

O acidente elevou uma nuvem radioativa que obrigou a retirada emergencial de 200 mil moradores da região. A população de Tóquio, capital, está assustada com a possibilidade dos ventos espalharem a radioatividade para o restante do país. A exposição prolongada à radiação causa mutação celular e câncer.

Cientistas alertaram para o risco de um acidente nuclear como o ocorrido em Tchernobil, na Ucrânia, em 1986. Na época, a radiação se espalhou pela Europa, matando milhares de pessoas e contaminando o solo. Foi o pior desastre nuclear da história.

A diferença é que, no caso de Tchernobil, houve explosão no reator nuclear, liberando partículas radioativas na atmosfera. No Japão, os problemas foram causados pela falha no sistema de resfriamento dos reatores, que geram energia elétrica a partir do urânio.

Desde então, as equipes tentam impedir o derretimento do núcleo dos reatores, o que causaria uma catástrofe atômica.

O Japão usa energia nuclear há quatro décadas, sem nunca ter registrado acidentes. São 55 reatores em operação em 17 usinas que, juntas, são responsáveis pela geração de um terço da energia elétrica consumida no território japonês.

Em comparação, o Brasil possui duas usinas em funcionamento, Angra 1 e Angra 2, ambas situadas na cidade de Angra dos Reis, no litoral sul do Rio de Janeiro. O complexo gera apenas 2,5% da eletricidade consumida no país.

As catástrofes combinadas – terremoto, tsunami e vazamento radioativo – formam a pior crise enfrentada pelos japoneses desde o final da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), quando a população sofreu um bombardeio atômico.

Abalos

O terremoto no Japão é o quinto mais forte desde 1900, quando começaram os registros mais confiáveis. O pior aconteceu em 22 de maio de 1960, no Chile, com magnitude de 9,5.

Mais recentemente, em 26 de dezembro de 2004, um terremoto de 9,1 na escala Richter na ilha de Sumatra, na Indonésia, causou um tsunami que matou 230 mil pessoas em 14 países do sudeste asiático.

Os tremores de terra são provocados pelo movimento de placas tectônicas na superfície terrestre. Quando os terremotos acontecem no mar, como no caso desse no Japão, o leito do oceano sofre uma elevação, deslocando um grande volume de água que forma uma série de ondas gigantes.

O Japão está localizado no chamado "anel de fogo do Pacífico", que inclui Filipinas, Indonésia e países menores. A região concentra as maiores atividades sísmicas do mundo.

Um total de 20% de todos os tremores de magnitude superior a 6 que acontecem no mundo afetam o Japão. Todos os dias o país é abalado por sismos, a maioria deles imperceptíveis para os habitantes.

Em 1933, um terremoto de 8,1 de magnitude matou 3 mil pessoas de Tóquio e cidades próximas. No mais mortífero, em 17 de janeiro de 1995, 6.424 pessoas morreram na região de Kobe-Osaka. Os abalos atingiram 7,2 graus na escala Richter.

Por esta razão, todas as construções japonesas são feitas com tecnologia moderna de engenharia civil. A população também recebe treinamento específico para se proteger em caso de terremotos e tsunamis. Tais medidas preventivas e alertas de segurança contribuíram para evitar que o número de morte e os prejuízos fossem maiores neste último tremor de terra.

Dekasseguis

Estima-se em bilhões de dólares o montante gasto com a recuperação das cidades. A tragédia pegou os japoneses em um momento econômico difícil. Depois de três décadas de crescimento, contando a partir dos anos 1960, há 15 anos a economia japonesa está estagnada.

O país acumula hoje uma dívida líquida que corresponde a 180% do PIB (no Brasil, a porcentagem é de 41%). No ano passado, o Japão foi ultrapassado pela China como a segunda maior economia mundial, posição que ocupava desde 1968.

O Brasil e o Japão possuem uma longa história de intercâmbio, com fluxos migratórios de ambos os lados. Os primeiros imigrantes japoneses chegaram ao país em 1908 no navio Kasato Maru. Desde então, formou-se a maior comunidade de japoneses e descendentes que vivem fora do país de origem.

No final dos anos 1980, foi a vez de descendentes brasileiros emigrarem para o Japão, em busca de melhores oportunidades de emprego.

Hoje os dekasseguis (trabalhador imigrante) de origem brasileira compõem o maior contingente no Japão. A região atingida por terremoto, porém, é o destino menos usual desses trabalhadores. Até agora, não há registro de brasileiros mortos na tragédia.

Direto ao ponto volta ao topo
Um terremoto de 9 graus na escala Richter, o mais forte já registrado no Japão, causou um tsunami que devastou a costa nordeste do país no dia 11 de março. Ondas de até 10 metros de altura arrastaram cidades e deixaram 4,3 mil mortos e milhares de desaparecidos.

O tremor também provocou explosões na estrutura de reatores nucleares no complexo de Fukushima Daiichi, uma das 25 maiores usinas do mundo. O acidente elevou uma nuvem radioativa que obrigou o deslocamento de 200 mil moradores das comunidades próximas. A energia nuclear no Japão responde por um terço do abastecimento de energia elétrica no país.

O terremoto no Japão é o quinto mais forte desde 1900, quando começaram os registros mais confiáveis. O pior aconteceu em 22 de maio de 1960, no Chile, com magnitude de 9,5.

O Japão está localizado no chamado "anel de fogo do Pacífico", que concentra as maiores atividades sísmicas do mundo. A tecnologia empregada na construção dos prédios e as medidas preventivas evitaram que a catástrofe fosse maior.

O Brasil e o Japão possuem uma longa história de intercâmbio, com fluxos migratórios de ambos os lados. O Brasil tem a maior comunidade japonesa fora da pátria, e no Japão, o maior número de dekasseguis (trabalhadores imigrantes) são de brasileiros.

Lei da Ficha limpa

STF decide que só vale a partir de 2012

José Renato Salatiel*
Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação
Atualizado em 07/04/2011.
O STF (Supremo Tribunal Federal) anulou no dia 23 de março a validade da Lei da Ficha Limpa nas eleições passadas. Com isso, 149 candidatos impedidos de tomar posse devido a condenações judiciais poderão assumir os cargos em todo o Brasil.

Direto ao ponto: Ficha-resumo

A Lei Ficha Limpa tornou mais rigorosos os critérios que impedem os políticos condenados pela Justiça de se candidatarem nas eleições. Ela foi aprovada no ano passado e saudada como um mecanismo de combate à corrupção no país.

Agora, por seis votos a cinco, os ministros do Supremo decidiram que a lei não tem validade para as eleições de 2010 – quando foram escolhidos presidente, governadores, deputados e senadores – em razão do princípio de anualidade.

De acordo com a Constituição Federal, qualquer mudança na legislação eleitoral só é válida se for promulgada um ano antes das eleições. Ou seja, não se podem mudar as regras do jogo no meio do processo eleitoral.

Como a Ficha Limpa foi sancionada em 4 de junho de 2010 pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, quatro meses antes do pleito, ela contraria a Constituição.

Por isso, a lei só será aplicada a partir das eleições municipais de 2012. Mas, até lá, o Supremo irá ainda analisar recursos que questionam outros aspectos da constitucionalidade da lei.

No ano passado, a votação no Supremo sobre a Ficha Limpa terminou empatada: cinco ministros a favor da aplicação em 2010 e outros cinco, contra. O desempate foi possível este ano com a posse de um novo ministro, Luiz Fux, que votou contra a aplicação da lei nas eleições passadas.

Barrados

Com base na Ficha Limpa, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) negou o registro de candidatura de 149 candidatos nas eleições de 2010. Os candidatos agora poderão ter os votos validados.

A decisão cabe aos magistrados que cuidam de cada processo. Contudo, como o STF é o órgão máximo da Justiça brasileira, o que ele decide acaba sendo estendido para as demais instâncias.

Entre os políticos beneficiados com a decisão do Supremo estão Jader Barbalho (PMDB-PA), Cássio Cunha Lima (PSDB-PB), João Capiberibe (PSB-AP) e Marcelo Miranda (PMDB-TO), eleitos para o Senado, e João Alberto Pizzolatti (PP-SC), Janete Capiberibe (PSB-AP) e Nilson Leitão (PSDB-MT), eleitos para a Câmara dos Deputados.

As mudanças devem alterar também a composição de Assembleias Legislativas e Câmara dos Deputados estaduais.

Dez anos

A proposta chegou ao Congresso por meio do Projeto de Lei de Iniciativa Popular (PLP), que é quando o projeto tem origem na sociedade civil. Ela entrou na pauta de votações do Congresso por pressão popular.

A Ficha Limpa altera a Lei Complementar nº 64 de 1990. Esta lei estabelece critérios de impedimento para a candidatura de políticos, de acordo com a Constituição.

A principal mudança com a Ficha Limpa é que ela proíbe que políticos condenados por órgãos colegiados, isto é, por grupos de juízes, de se candidatem às eleições. Pelas regras anteriores (que vigoraram nas eleições passadas), o político ficaria impedido de se candidatar somente quando todos os recursos estivessem esgotados, o que é chamado de decisão transitada em julgado. O trâmite pode demorar até uma década, o que acaba beneficiando os réus.

Um processo cível ou criminal começa a ser julgado no Fórum da cidade, onde acontece a decisão de primeira instância, que é a sentença proferida por um juiz. Se houver recurso, o pedido é analisado por juízes do Tribunal de Justiça dos Estados.

Há ainda a possibilidade de apelar a uma terceira instância, que pode ser tanto o Superior Tribunal de Justiça (STJ) quanto, em se tratando de artigos da Constituição, o STF.

De acordo com a Lei Complementar nº 64, somente quando esgotados todos esses recursos o político que responde a processo poderia ser impedido de se candidatar.

A Lei Ficha Limpa, ao contrário, torna inelegível o réu que for condenado por um grupo de juízes que mantiver a condenação de primeira instância, além daqueles que tiverem sido condenados por decisão transitada em julgado.

Depois de anularem a validade da lei para as eleições passadas, os ministros do Supremo devem debater se essa mudança é constitucional ou não. Acontece que o artigo 5º da Constituição afirma que “ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória”.

Se a Corte Suprema entender que a Ficha Limpa contraria o artigo, condenando o réu antes de esgotadas todas as possibilidades de recursos, a lei poderá perder sua principal contribuição para a legislação eleitoral brasileira.

Direto ao ponto volta ao topo

O STF (Supremo Tribunal Federal) anulou no dia 23 de março a validade da Lei da Ficha Limpa nas eleições passadas. Com isso, 149 candidatos impedidos de tomar posse por conta de condenações judiciais poderão assumir os cargos em todo o Brasil.

A Lei Ficha Limpa tornou mais rigorosos os critérios que impedem os políticos condenados pela Justiça de se candidatarem nas eleições. Ela foi sancionada em junho de 2010 pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e saudada como um mecanismo de combate à corrupção no país.

Por seis votos a cinco, os ministros do Supremo decidiram que a lei não tem validade para as eleições de 2010 devido ao princípio de anualidade. De acordo com a Constituição Federal, qualquer mudança na legislação eleitoral só é válida se for promulgada um ano antes das eleições.

A principal mudança com a Ficha Limpa é que ela proíbe que políticos condenados por órgãos colegiados, isto é, por grupos de juízes, se candidatem às eleições. O Supremo, agora, vai decidir se essa determinação é ou não inconstitucional.

Revoltas árabes

Gaddafi pode ser o próximo a cair

José Renato Salatiel*
Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação
Atualizado 02/03/2011, às 8h22
Muammar Gaddafi é considerado o pior ditador no mundo árabe. Ele está há 41 anos no poder – é o mais longevo entre os governantes – e não hesitou em usar as Forças Armadas para reprimir protestos, que são proibidos na Líbia.

Direto ao ponto: Ficha-resumo

Agora, cada vez mais isolado, ele pode ser o próximo líder muçulmano a deixar o cargo por conta das manifestações pró-democracia que se espalharam pela África do Norte e o Oriente Médio. O movimento já derrubou dois presidentes, da Tunísia e do Egito, em menos de dois meses.

A queda de ditadores é algo inédito na história da região. Os países árabes são governados por monarquias ou ditaduras. O aumento no preço dos alimentos, o desemprego e a insatisfação dos jovens deram início às revoltas por abertura política. Os levantes chegaram a Bahrein, Marrocos, Iêmen, Jordânia, Irã e Arábia Saudita.

Na Líbia, o governo reagiu com violência. Quase 300 pessoas morreram em conflitos com forças de segurança desde o dia 16 de fevereiro. O ditador líbio chegou a usar aviões e tanques contra as multidões.

Os protestos começaram após a prisão de um advogado ligado à causa dos Direitos Humanos. O maior foco dos distúrbios é Benghazi, segunda maior cidade, localizada na região leste.

A cada dia a situação fica mais difícil para Gaddafi. Dentro do país, os revoltosos assumiram o controle de cidades no leste. Na região nordeste, militares aderiram à "revolução do povo". No exterior, a pressão diplomática é a cada vez maior para que ele deixe o poder.

Em um pronunciamento raivoso na TV, em 21 de fevereiro, o líder líbio, de 68 anos, desafiou os revoltosos e disse que iria “morrer como um mártir”. Antes, seu filho Saif al-Islam advertiu para o risco de guerra civil.

No dia 22 de fevereiro, o Conselho de Segurança da ONU condenou o uso da violência contra manifestantes na Líbia e pediu a responsabilização dos culpados. A decisão deve ser seguida se novos embargos contra o regime.

Petróleo

A Líbia é um país rico em petróleo. É o quarto maior produtor da África, depois da Nigéria, Argélia e Angola, com reservas estimadas em 42 bilhões de barris (para efeito de comparação, as reservas brasileiras são de 14 bilhões de barris). A maior parte da produção é exportada para a Europa.

O país, de 6,4 milhões de habitantes (equivalente à população do Rio de Janeiro), tem ainda o maior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da África. A riqueza, porém, não é bem distribuída entre a população. A despeito das melhorias em relação ao período anterior à Gaddafi, um terço vive na pobreza e a taxa de desemprego é de cerca de 30%. Esse é um dos principais motivos dos protestos.

A Líbia foi província romana, domínio do Império Otomano e colônia italiana. Após a Segunda Guerra Mundial, o território foi repartido entre a França e o Reino Unido. Em 1º de janeiro de 1952, a ONU aprovou a independência, reunindo os territórios no Reino Unido da Líbia. O emir Sayyid Idris al-Sanusi foi coroado rei Idris I, primeiro e único monarca a governar a nação.

Nos anos seguintes, Estados Unidos e Reino Unido instalaram bases militares em solo libanês. Mas a descoberta de petróleo levou o governo a pedir a retirada das tropas estrangeiras. O minério também mudou o perfil econômico e social do país, que até então era um dos mais pobres do continente africano.

Um golpe de Estado depôs a monarquia em 1º de setembro de 1969, sem derramamento de sangue. Gaddafi, com apenas 27 anos, assumiu o comando. Até hoje, a Líbia não tem Constituição ou partidos políticos, e a oposição é proibida.

Nas décadas seguintes, o ditador se tornou inimigo do Ocidente, comparável ao iraquiano Saddam Hussein. Nos últimos anos, entretanto, conseguiu se reaproximar das potências ocidentais.

Terrorismo

Gaddafi ficou conhecido pelo jeito extravagante de se vestir, os discursos incoerentes e a habilidade diplomática. Nos anos 1980, foi monitorado pelos serviços de inteligência por ligações com grupos terroristas.

O governo da Líbia foi responsabilizado por atentados na Europa e no Oriente Médio. O mais conhecido foi o ataque à bomba no voo da Pan Am sobre Lockerbie, na Escócia, que matou 270 pessoas em 1988.

Dois anos antes, em 1986, o ex-presidente americano Ronald Reagan (que chamou Gaddafi de "cachorro louco”) autorizou um ataque aéreo à capital Trípoli. A investida ocorreu em represália a um atentado contra uma discoteca em Berlim Ocidental, que matou dois militares americanos. Entre os mortos no ataque à Trípoli estava a filha adotiva de Gaddafi.

Depois do 11 de Setembro, Gaddafi passou a colaborar com os americanos na guerra contra o terrorismo. Em 2003, ele assumiu a autoria do atentado de Lockerbie e pagou uma indenização bilionária às famílias das vítimas.

A estratégia visava suspender as sanções impostas pela ONU. Deu certo. Nos últimos anos, Trípoli reatou legações diplomáticas e comerciais com a Europa e dos Estados Unidos, atraindo investidores estrangeiros. A crise atual mudou o panorama. Os governos ocidentais agora pedem a saída do ditador e fazem a retirada em massa de estrangeiros.

Direto ao ponto volta ao topo
Os protestos pró-democracia que se espalharam pelo mundo árabe ameaçam agora derrubar o ditador líbio Muammar Gaddafi. Quase 300 pessoas já morreram desde o início das manifestações na Líbia. Gaddafi, porém, está cada vez mais isolado. Ele enfrenta deserções em seu Exército e a pressão internacional para que deixe o cargo, que ocupa há 41 anos.

No último dia 22 de fevereiro, o Conselho de Segurança da ONU condenou o uso da violência contra os líbios. Em pronunciamento na TV, Gaddafi disse que “morreria como um mártir”, e ameaçou reprimir os manifestantes.

A Líbia é o quarto maior produtor de petróleo na África e tem o maior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do continente. A riqueza, contudo, não é bem distribuída entre a população.

Gaddafi chegou ao poder em 1969 por meio de um golpe de Estado. Nos anos 1980, financiou grupos terroristas, sofreu bombardeio americano e sanções da ONU. Na última década, se reaproximou dos Estados Unidos e da Europa. A atual crise no país mudou a situação favorável do país junto ao Ocidente.

As revoltas árabes já derrubaram dois presidentes – na Tunísia e no Egito – e chegaram à Bahrein, Marrocos, Iêmen, Jordânia, Irã e Arábia Saudita.

Crise no Egito

Protestos derrubam ditador

José Renato Salatiel*
Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação
Depois de 18 dias de manifestações populares, o presidente egípcio Hosni Mubarak renunciou ao cargo no dia 11 de fevereiro de 2011, encerrando três décadas de ditadura. O feito, considerado histórico, foi comemorado em todo o mundo.

Direto ao ponto: Ficha-resumo

O Egito é o mais populoso e influente país árabe. Nunca antes um governante havia sido deposto por força de um movimento popular. A primeira vez que isso aconteceu no mundo árabe foi na Tunísia, em 14 de janeiro. Na ocasião, o presidente Zine El Abidine Ben Ali também cedeu aos protestos e renunciou, após 23 anos no poder.

Rapidamente, a onda de protestos pró-democracia se espalhou por outros países do Norte da África e do Oriente Médio. Os especialistas, entretanto, eram céticos quando à possibilidade de queda do ditador egípcio. Isso porque o Egito possui o maior aparato policial da região, financiado pelos Estados Unidos.

Porém, os manifestantes desafiaram o toque de recolher imposto pelas autoridades e transformaram a praça Tahrir (libertação, em árabe), localizada no centro do Cairo, num monumento de resistência ao regime. No local, eles confrontaram a polícia e simpatizantes de Mubarak. Mais de 300 pessoas morreram em duas semanas de distúrbios.

O presidente tentou de todas as formas evitar a renúncia. Ele prometeu que não iria concorrer às próximas eleições, marcadas para setembro, trocou o ministério e indicou um vice. Menos de 24 horas antes da renúncia, anunciou na TV que delegaria alguns poderes ao vice-presidente, Omar Suleiman, e faria reformas constitucionais.

Nada disso adiantou. O último discurso do presidente somente serviu para revoltar mais a população, que exigia sua saída. Nos bastidores, os Estados Unidos faziam pressão diplomática para que fosse feita a transição de poder. Sem apoio das Forças Armadas, que sustentou sua ditadura por três décadas, só restou a renúncia, que foi festejada nas ruas do país.

No lugar de Mubarak assumiu o Conselho Militar do Egito. Os militares dissolveram o Parlamento e o gabinete ministerial, ambos ligados ao ex-presidente. Em seguida, prometeram revogar a Lei de Emergência – que há 30 anos restringe as liberdades civis – e fazer um referendo para mudar a Constituição. A Carta vigente dá plenos poderes ao presidente.

As Forças Armadas devem permanecer por seis meses no controle, até a formação de um novo governo.

Ditadura

Hosni Mubarak chegou à Presidência em 14 de outubro de 1981, oito dias depois do assassinato do presidente Anwar Al Sadat por extremistas islâmicos. Na época, os radicais estavam descontentes com o acordo de paz assinado com Israel em 1979.

Nos anos seguintes, com a justificativa de conter o terrorismo, Mubarak adotou medidas cada vez mais restritivas às liberdades políticas e civis. Ele também foi reeleito sucessivas vezes em eleições fraudulentas e com apoio das potências ocidentais.

A situação do Egito não é diferente dos demais Estados árabes. Eles são governados por monarquias absolutistas, ditaduras militares ou teocracias. Por isso, as revoltas atuais são comparadas àquelas que levaram à queda dos regimes comunistas no Leste Europeu, no final dos anos 1980.

Durante décadas, os árabes toleraram a falta de liberdade em troca de estabilidade econômica. A alta do preço dos alimentos e o desemprego mudaram este quadro nos últimos meses. Outro fator que originou o movimento foi o crescimento da população mais jovem e mais instruída, que reivindica abertura democrática. Os jovens usam a internet e as redes sociais para praticarem ativismo político, o que levou os Estados árabes a aumentarem a censura à rede.

As lideranças jovens, por outro lado, resistem à alternativa de um Estado mulçumano. Por isso, há chances de que, após a queda dos ditadores, haja uma inédita transição democrática nestes países, como vem ocorrendo na Tunísia.

Futuro

A saída de Mubarak não resolveu os problemas no Egito. Os protestos prejudicaram a já debilitada economia, baseada no petróleo e no turismo. Várias categorias continuam em greve por melhores salários.

Além disso, décadas de ditadura deixaram um vazio político no país, com ausência de lideranças políticas para disputar eleições livres. Um movimento influente entre as camadas mais pobres é a Irmandade Mulçumana, de caráter religioso, que representará risco ao Ocidente (sobretudo a Israel) caso conquiste espaço no novo governo. A irmandade, fundada em 1928, é o grupo fundamentalista islâmico mais antigo.

Outra questão em aberto é o peso que a queda de Mubarak vai provocar nos países vizinhos. Nos últimos dias, manifestações ganharam força no Iêmen, na Argélia, na Líbia e em Bahrein, no Golfo Pérsico.

No Irã, voltaram a ocorrer protestos, mesmo com a proibição do governo. Em 2009, o regime iraniano reprimiu com violência protestos contra a reeleição do presidente Mahmoud Ahmadinejad.

Alguns países anunciaram medidas econômicas, em benefício da população, e de segurança, com o objetivo de prevenir levantes populares. As revoltas árabes podem ainda alterar a geopolítica da região e a diplomacia com os Estados Unidos e países europeus, que antes toleravam ditaduras para conter o avanço dos radicais islâmicos.

Direto ao ponto volta ao topo
O presidente egípcio Hosni Mubarak renunciou ao cargo no dia 11 de fevereiro, encerrando três décadas de ditadura. Ele cedeu a 18 dias de protestos ininterruptos no Cairo, com conflitos que deixaram mais de 300 mortos.

O Egito é o mais populoso (80 milhões de habitantes) e influente país árabe. A queda de um ditador por força de movimentos populares é algo inédito. Isso aconteceu pela primeira vez na Tunísia, em 14 de janeiro. Desde então, as manifestações espalharam-se pela região, ameaçando ditaduras militares e monarquias absolutistas.

O Conselho Militar do Egito assumiu o poder e prometeu mudanças na Constituição. As próximas eleições estão marcadas para setembro deste ano. O futuro do país, porém, é incerto. Há falta de lideranças políticas e sobram problemas econômicos. Não se sabe também que efeitos a queda de Mubarak irá provocar no mundo árabe, onde já foram registrados protestos em outros países, inclusive no Irã.

Mineiros do Chile

O resgate que emocionou o mundo

José Renato Salatiel*
Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação
No dia 5 de agosto, um desmoronamento deixou 33 operários presos na mina de San José, situada no deserto do Atacama, no Chile . Eles ficaram incomunicáveis, a 700 metros de profundidade, durante 17 dias, até serem descobertos pelas equipes de sondagem.

Direto ao ponto: Ficha-resumo

Começou, então, a ser planejada uma operação de resgate, inédita em tais condições, prevista para durar até quatro meses. Entre os dias 12 e 13 de outubro, 70 dias após o acidente, todos os mineiros foram resgatados com vida.

Da galeria onde estavam confinados, os operários enviavam vídeos em que demonstravam otimismo e organização. Eles cantavam o hino nacional chileno e mandavam mensagens para os familiares, que aguardavam acampados no terreno da mineradora. O resgate foi transmitido ao vivo pela internet e por canais de televisões de todo o mundo.

O presidente do Chile, Sebastián Piñera , em meio a uma crise de popularidade, assumiu o compromisso de salvar todos os trabalhadores presos. Ele acompanhou os trabalhos no local e recebeu os mineiros que, um a um, eram retirados de dentro de uma cápsula metálica usada para fazer o salvamento.

A eficácia do governo e a lição de solidariedade dos chilenos contribuíram para compor uma imagem positiva do país. Até então, o Chile era lembrado, principalmente, pela ditadura de Augusto Pinochet , uma das mais violentas na América Latina.

O acidente na mina de San José também chamou atenção para os riscos da falta de segurança nas mineradoras. O minério é uma das principais riquezas do Chile. A mineração corresponde a 7% do Produto Interno Bruto (PIB) e um terço de todo o cobre do mundo é proveniente do país. A tecnologia empregada no salvamento servirá agora de modelo para futuros resgates.

Sobrevivência

O período de 17 dias de isolamento foi o mais difícil para os 33 operários presos na mina. Para sobreviver, eles consumiam apenas duas colheres de atum em lata e meio copo de leite por dia. A água era retirada de máquinas de refrigeração e eles dormiam espalhados em túneis.

No refúgio de 52 metros quadrados, a temperatura era de 35 graus e a umidade do ar atingia 85%. Havia pouca ventilação, poeira e ausência de luz solar. Neste ambiente insalubre, eram grandes os riscos dos mineiros contraírem infecções e doenças respiratórias.

Além disso, não se sabia o que poderia acontecer com um ser humano submetido a um período prolongado de confinamento em grupo. Eles poderiam sofrer estresse e depressão. Os efeitos só haviam antes sido estudados em astronautas em missões espaciais. Por isso, o governo chileno contou com apoio de especialistas da Nasa, a agência espacial americana.

Depois que foram descobertos no abrigo, os trabalhadores receberam alimentos, água e medicamentos por três sondas de oito centímetros de diâmetro. Eles também podiam se comunicar com familiares e serem avaliados por equipes de médicos e psicólogos.

Resgate

Pela quantidade de pessoas, tempo de clausura e profundidade (comparável à altura de duas torres Eiffel ), o resgate no Chile foi inédito no mundo. A solução escolhida para salvar os funcionários foi construir cápsulas de metal, que seriam inseridas na mina através de dutos.

Modelos de cápsulas foram usados em pelo menos duas outras ocasiões, na Alemanha : no salvamento de três mineiros em 1955, presos a 855 metros de profundidade, e em 1963, quando outros 11 foram resgatados a 58 metros abaixo do solo.

As cápsulas chilenas, porém, eram mais sofisticadas. Elas tinham rádio-comunicador, cinto biométrico (que monitora as funções vitais) e tubos de oxigênio . Foram construídas três cápsulas de 58 centímetros de diâmetro, batizadas de Fênix: uma usada para teste, uma reserva e a que fez a retirada dos homens.

O primeiro mineiro a ser retirado, Florencio Ávalos, saiu por volta das 0h10 do dia 13 de outubro. Em 21 horas e 44 minutos, todos os demais foram salvos. Mesmo os que saíram à noite tiveram que usar óculos escuros para não causar danos às vistas, privadas de luz por tanto tempo.

A operação foi acompanhada pela TV e pela internet por cerca de um bilhão de pessoas no planeta. Mil e quinhentos jornalistas de 33 países cobriram o evento. A movimentação aqueceu o mercado na cidade mais próxima, Copiapó, e a fama está "engordando" as contas bancárias dos familiares dos mineiros.

Heróis

Os 33 mineiros se tornaram conhecidos mundialmente e foram considerados heróis no Chile. Eles receberam prêmios, viagens, ofertas de trabalho e venderam direitos de entrevistas exclusivas e a publicação de suas histórias em livro. Para isso, fizeram um pacto de não revelar detalhes do confinamento. Dificilmente irão voltar a exercer a antiga profissão.

A mina San José foi fechada pelo governo e os bens da mineradora foram bloqueados na Justiça. Cerca de 300 funcionários trabalhavam no local. As famílias pedem indenizações de US$ 12 milhões e o governo quer que a mineradora arque com parte das despesas da operação de resgate, de custo estimado em US$ 20 milhões.

Em 2007, um trabalhador morreu no mesmo local e a mina ficou interditada por um ano. Depois do último acidente, o governo prometeu aumentar a fiscalização no setor e revisar padrões de segurança na indústria mineradora do país.

Após o resgate no Chile, ocorreram outros três acidentes em minas na China, Equador e Colômbia. No caso mais grave, 37 mineiros morreram numa mina de carvão em Yuzhou, na província de Henan, no centro da China .. A mineração no país é considerada a mais arriscada do mundo, com o registro de 2,6 mil mortes desde 2009.

No Equador, outro desmoronamento matou quatro mineiros a 150 metros de profundidade em Portovelo, na província de El Oro, próximo à fronteira com o Peru. Na Colômbia, dois operários foram soterrados a 60 metros na mina de carvão La Esperanza, no departamento de Boyacá.

Direto ao ponto volta ao topo
No dia 5 de agosto, um desmoronamento deixou 33 operários presos na mina de San José, no deserto do Atacama, no Chile. Eles ficaram incomunicáveis, a 700 metros de profundidade, durante 17 dias, até serem descobertos pelas equipes de sondagem.

Começou, então, a ser planejada uma operação de resgate, inédita em tais condições, prevista para durar até quatro meses. Entre os dias 12 e 13 de outubro, 70 dias após o acidente, todos os mineiros foram resgatados com vida. Eles foram considerados heróis no país e ficaram mundialmente famosos.

O resgate foi transmitido ao vivo pela internet e por canais de televisões de todo o mundo, contribuindo para aumentar a popularidade do governo do presidente Sebastián Piñera e gerar lucro para os mineiros, que venderam direitos de entrevistas exclusivas e receberam prêmios e ofertas de trabalho.

O acidente na mina de San José também chamou atenção para os riscos em segurança nas mineradoras. Após o acidente, 37 mineiros morreram na China.

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