sexta-feira, 8 de abril de 2011

HISTÓRIA

Apartheid Origem

Origem histórica da segregação racial na África do Sul

Renato Cancian*
Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação
Reprodução
Para uso de pessoas brancas, diz a placa da época do apartheid

O termo apartheid significa "separação" ou "identidade separada". Serviu para designar o regime político da África do Sul que, durante décadas, impôs a dominação da minoria branca (ou aristocracia branca) sobre grupos pertencentes a outras etnias, compostos em sua maioria por negros.

O apartheid não deve ser interpretado como simples "racismo", pois ele foi um sistema constitucional de segregação racial que abrangeu as esferas social, econômica e política da nação sul-africana estabelecendo critérios para diferenciar os grupos.

A origem histórica do apartheid é bem antiga e remonta ao período da colonização da África do Sul. Os primeiros colonizadores bôeres (também denominados de afrikaner) compunham-se de grupos sociais europeus que vieram da Holanda, França e Alemanha e se estabeleceram no país nos séculos 17 e 18.

Ideologia nacionalista

Esses colonizadores dizimaram as populações autóctones (grupos tribais indígenas) e tomaram suas terras. Os líderes afrikaners manipularam e converteram um preceito religioso cristão, que a princípio estabelecia a segregação como uma forma de defender e preservar as populações tribais da influência dos brancos, em uma ideologia nacionalista que pregava a desigualdade e separação racial.

Os afrikaners se consideravam a verdadeira e autêntica nação (ou volk, que em alemão significa povo). A cor e as características raciais determinaram o domínio da população branca sobre os demais grupos sociais e a imposição de uma estrutura de classe baseada no trabalho escravo.

Política racial

Nas regiões dominadas por eles estabeleceu-se uma política racial que diferenciou os europeus (população branca) dos africanos (que incluía todos os nativos não-brancos, também conhecidos por bantus). Até mesmo aqueles grupos sociais compostos por imigrantes asiáticos, em particular indianos, sofreram com a política de discriminação racial.

Seria engano supor que a expansão do domínio dos afrikaners sobre a população não-branca da África do Sul foi um processo livre de conflitos. Pelo contrário, houve muitas guerras com as populações tribais que ofereceram resistência aos brancos, entre elas as tribos xhosa, zulu e shoto.

No início do século 20, a África do Sul atravessou um intenso processo de modernização que intensificou os conflitos entre brancos e não-brancos. Não obstante, a minoria branca soube explorar os conflitos intertribais que afloravam entre os diferentes grupos étnicos e isso de certo modo facilitou a avanço e domínio dos afrikaners.

Apartheid

Auge e declínio do regime do Apartheid sul-africano

Renato Cancian*
Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação
Divulgação/ANC
O líder anti-apartheid Nelson Mandela, que presidiu a África do Sul ao fim do regime segregacionista
O apartheid foi estabelecido oficialmente na África do Sul em 1948 pelo Nationalist Party (Partido dos Nacionalistas) que ascendeu ao poder e bloqueou a política integracionista que vinha sendo praticada pelo governo central.

O Nationalist Party representava os interesses das elites brancas, especificamente da minoria boere. Após 1948, o sistema de segregação racial atingiu o auge. Foram abolidos definitivamente alguns direitos políticos e sociais que ainda existiam em algumas províncias sul-africanas.

As diferenças raciais foram juridicamente codificadas de modo a classificar a população de acordo com o grupo social a que pertenciam. A segregação assumiu enorme extensão permeando todos os espaços e relações sociais. Os casamentos entre brancos e negros foram proibidos.

Os negros não podiam ocupar o mesmo transporte coletivo usado pelos brancos, não podiam residir no mesmo bairro e nem realizar o mesmo trabalho, entre outras restrições. Os brancos passaram a controlar cerca de 87% do território do país, o que sobrava se compunha de territórios independentes, mas paupérrimos, deixados aos grupos sociais não-brancos.

Declínio do apartheid

O apartheid é o único caso histórico de um sistema onde a segregação racial assumiu uma dimensão institucional. Essa situação permite definir o governo sul-africano como uma ditadura da raça branca.

Na década de 1970, o governo da África do Sul tentou em vão encontrar fórmulas que pudessem assegurar certa legitimidade internacional. Porém, tanto a ONU (Organização das Nações Unidas) como a Organização da Unidade Africana, votaram inúmeras resoluções condenando o regime.

No transcurso dos anos 70, a África do Sul presenciou inúmeras e violentas revoltas sociais promovidas pela maioria negra, mas duramente reprimidas pela elite branca. Sob o governo de linha dura, liderado por Peter. W. Botha (1985-1988), tentou-se eliminar os opositores brancos ao governo e as revoltas raciais foram duramente reprimidas.

Porém, as revoltas sociais se intensificaram bem como as pressões internacionais. Em 1989, Frederic. W. de Klerk, assumiu a presidência. Em 1990, o novo presidente conduz o regime sul-africano a uma mudança que põe fim ao apartheid. Neste mesmo ano, o líder negro Nelson Mandela, que desde 1964 cumpria pena de prisão perpétua, é posto em liberdade. Nas primeiras eleições livres, ocorridas em 1993, Mandela é eleito presidente da África do Sul e governa de 1994 a 1999.
 

Árabes e judeus

Relacionamento marcado por tensões e conflitos

Jayme Brener*
Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação
O conflito entre árabes e judeus é relativamente recente, ao contrário do que muitos acreditam. Até o final do século 19, judeus e diferentes povos árabes viviam como "primos" (o que supõe, claro, conflitos ocasionais), e não só no Oriente Médio. A convivência se estendeu, por exemplo, à Espanha, ocupada pelos árabes até o fim do século 15.

Os problemas ganharam corpo com a crise dos grandes impérios, ao término do século 19, que permitiu o avanço de inúmeros movimentos nacionalistas. Isso tanto no Império Russo como no Império Turco-Otomano e no Império Austro-Húngaro.

Entre os novos movimentos estavam o nacionalismo árabe, que defendia a criação de um grande Estado árabe independente dos turcos; e o movimento sionista, defensor da volta dos judeus à Palestina - dispersos por todo o mundo desde a destruição de seu Estado independente, no início da era cristã.

A 1ª Guerra Mundial (1914-1918) selou o fim dos grandes impérios e redesenhou o mapa do Oriente Médio, que antes era dominado pelos turcos. Os ingleses receberam um mandato da Liga das Nações para ocupar por 30 anos os atuais Iraque, Jordânia e Palestina. A França ficou com o que hoje são a Síria e o Líbano.

Entre os judeus, a maioria vivendo na Europa Oriental e na América do Norte, o sionismo era bastante minoritário. As correntes políticas mais fortes eram as compostas pelos socialistas - defensores da integração dos judeus à luta dos trabalhadores contra o capital -, pelos liberais - favoráveis à integração da população judaica em cada país -, ou, ainda, pelos religiosos ortodoxos.

O problema é que, para conquistar o apoio dos árabes contra os turcos na 1ª Guerra, assim como o respaldo dos judeus nos impérios Russo e Austro-Húngaro, e também nos Estados Unidos, a Grã-Bretanha prometeu a mesma coisa aos dois lados. Aos árabes, um grande Estado independente, o que suporia a inclusão da Palestina. E aos judeus, um "lar nacional" na Palestina.

As duas comunidades passaram então a disputar espaço na Palestina sob mandato britânico. Os sionistas traziam jovens pioneiros da Europa Oriental para cultivar terras compradas dos árabes por milionários judeus. E os nacionalistas árabes lançavam ataques armados contra as novas comunidades judaicas. Os britânicos ficavam no meio do caminho, ora limitando a imigração judaica, ora restringindo os ataques dos militantes árabes.

Massacre na Europa

Tudo mudou com a 2ª Guerra Mundial (1939-1945), quando mais de seis milhões de judeus foram massacrados pelos nazifascistas na Europa, ao lado de milhões de russos, poloneses, homossexuais, dissidentes políticos e deficientes físicos e mentais. No final da guerra, com a Europa arrasada, o sionismo tornou-se rapidamente majoritário entre os judeus sobreviventes.

Com a retirada das tropas britânicas da Palestina marcada para 1947, os sionistas - que contavam com a simpatia da opinião pública mundial, devido ao massacre dos judeus na guerra - conseguiram costurar o apoio dos dois grandes vencedores do conflito, União Soviética e Estados Unidos, à divisão do território.

A Assembleia Geral da ONU, então presidida pelo ex-chanceler brasileiro Oswaldo Aranha, votou pela partilha da Palestina em dois estados - um árabe e outro judeu. Em maio de 1948, o futuro primeiro-ministro David Ben Gurion anunciou a criação do Estado de Israel. O mundo árabe não aceitou a partilha e, nos dias seguintes, sete estados árabes declararam guerra a Israel, que foi invadido por cinco exércitos. Valendo-se da divisão do mundo árabe, os israelenses venceram a guerra e expulsaram muitos palestinos do que deveria ser seu Estado.

Desde então, houve três grandes guerras entre Israel e os países árabes: em 1956, 1967 e 1973. Na Guerra dos Seis Dias, em 1967, Israel ocupou a Faixa de Gaza e o deserto do Sinai, que pertenciam ao Egito, as colinas do Golan (Síria), as fazendas de Shebaa (Líbano), Jerusalém Oriental e a Cisjordânia (Jordânia).

Em 1979, Israel assinou a paz com o Egito, que recebeu de volta o Sinai. Nunca mais o mundo árabe conseguiria unir-se contra o Estado judeu. Sucessivos governos israelenses incentivaram a criação de colônias judaicas nos territórios ocupados, principalmente a Cisjordânia.

Intifadas

A resistência palestina optou então pela luta armada, lançando mão por vezes do terrorismo - com ataques a alvos civis dentro e fora de Israel. O resultado foi pouco alentador e o terrorismo até reforçou a posição de Israel, que tem nos Estados Unidos seu principal aliado. Em 1987, explodiu uma revolta popular contra os israelenses na Faixa de Gaza e na Cisjordânia, inicialmente fora do controle da Organização pela Libertação da Palestina (OLP) e de seu principal líder, Yasser Arafat. A rebelião ficou conhecida como intifada, sobressalto, em árabe.

A reação violenta do exército israelense, que matou centenas de pessoas em poucos dias, desgastou a posição do país. Em seguida, Arafat prometeu desistir da luta armada em favor de negociações políticas que conduzissem à criação de um Estado palestino. Em 1991, sob pressão dos EUA, que enfrentavam a ira das massas árabes por conta da invasão do Iraque, naquele mesmo ano, o então primeiro-ministro ultraconservador de Israel, Itzhak Shamir, aceitou iniciar tímidas negociações de paz com os palestinos, na Conferência de Madrid.

Mas o sucessor de Shamir, Itzhak Rabin, levou as negociações à frente e, em 1993, assinou com Yasser Arafat os acordos de Oslo, com apoio da Casa Branca. O acordo previa a criação da Autoridade Palestina, embrião de um futuro governo palestino na Cisjordânia e na Faixa de Gaza. Os limites territoriais e a espinhosa questão de Jerusalém - que é reivindicada como capital por israelenses e palestinos - deveriam ser resolvidos nos anos seguintes. Israel também assinou a paz definitiva com a vizinha Jordânia.

As negociações com os palestinos evoluíram com extrema dificuldade, mas, no fim dos anos 90, parecia que a paz estava próxima, em torno de uma proposta israelense que incluía uma complexa equação para permitir a soberania compartilhada sobre Jerusalém. Também parecia próximo um acordo sobre a troca de territórios entre Israel e palestinos para resolver o problema dos quase 200 mil colonos judeus que vivem na Cisjordânia.

Arafat, porém, acreditou que o momento era favorável para aumentar as demandas e apresentou a exigência de realocação, no atual Israel, de milhões de palestinos que haviam perdido suas terras e casas após 1948. O governo israelense não aceitou, as conversações de paz foram por água abaixo e um passeio de outro primeiro-ministro ultraconservador, Ariel Sharon, pela Esplanada das Mesquitas, local sagrado para os muçulmanos em Jerusalém, detonou a segunda intifada, em 2000.

De lá para cá, a paz entre judeus e palestinos tem parecido cada vez mais distante. A OLP, que defendia um acordo com Israel, perdeu espaço nos territórios ocupados para o movimento fundamentalista islâmico Hamas, que tem apoio do Irã e da Síria e rejeita a paz com o Estado judeu. E o cenário político israelense deslocou-se para a direita, com as forças pacifistas perdendo espaço.

Grupos palestinos lançaram mão outra vez do terror, acionando homens (e mulheres) bombas contra alvos civis em Israel. Os israelenses reagiram construindo um imenso muro de proteção que isola suas cidades e estradas dos núcleos residenciais palestinos.

Em 2006, Israel lançou um sangrento ataque contra o Líbano, a propósito de estancar os disparos de foguetes do Hizbolá, facção xiita que tem o apoio da Síria e do Irã. Dois anos depois, também para pôr fim a ataques de foguetes contra seu território, Israel invadiu a Faixa de Gaza, deixando centenas de mortos.

Pouco mais de cem anos depois do nascimento do nacionalismo árabe e do sionismo, as perspectivas de paz entre Israel e seus vizinhos árabes parecem muito distantes. As negociações entre israelenses e palestinos estão paralisadas, assim como qualquer conversa entre Israel, Síria e Líbano. Fala-se até em um novo ataque de Israel contra o Hizbolá libanês, que vem recebendo de sírios e iranianos mísseis capazes de atingir as principais cidades israelenses.

Pior: nos últimos anos um novo player desponta no tabuleiro político regional. Trata-se do Irã, cujo governo é abertamente hostil a Israel e aos EUA, e está engajado em um imponente programa nuclear.

Como se vê, essa história ainda nos reserva muitos capítulos antes do epílogo que todos juram perseguir: a paz duradoura no Oriente Médio.

Astecas

Religião e organização social no Império Asteca

Túlio Vilela*
Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação
Reprodução
Vaso representa Tláloc, o deus da chuva e do trovão

Quais eram os deuses cultuados pelos astecas?

Os astecas eram politeístas, isto é, acreditavam em vários deuses. No início, a religião dos astecas era muito simples, mas foi se tornando mais complexa quando eles foram entrando em contato com outros povos vizinhos, dos quais foram incorporando novos elementos. A lista de divindades cultuadas pelos astecas era bastante extensa. Seria praticamente impossível, e sem propósito, falar a respeito de cada uma delas aqui.

Quais algumas das mais importantes?

Quetzacoatl, a serpente de plumas, no início, era uma divindade que representava a fertilidade e, com o passar do tempo, se transformou, passando a representar as ideias de morte e ressurreição; Tezcatlipoca, deus da noite, era invisível e sedento por sangue humano; Tláloc, deus que trazia tanto a chuva, que tornava os campos férteis, quanto o trovão e o granizo; Huitizilopchtli, deus guerreiro que representava o Sol do meio-dia; Xipe-Totec, divindade dos ourives, e que se revestia com a pele de um homem esfolado.

Como e quando surgiu a civilização asteca?

Pouco se sabe a respeito dos primeiros tempos desse povo. Na verdade, o povo que chamamos de "asteca" chamava a si mesmo de "mexica" e era chamado pelos espanhóis de "mexicas". A palavra "asteca" surgiu de aztecatl, que na língua nativa falada pelo povo Mexica designava os que vinham de Aztlán, lugar que, segundo a lenda, era a terra natal do povo mexica. A partir do século 19, autores europeus começaram a usar o termo "asteca", que também foi incorporado por historiadores mexicanos para distinguir os habitantes do México atual dos que viviam na região antes da chegada dos espanhóis. Hoje, o termo "asteca" geralmente é usado para designar todos os habitantes do império fundado pelo povo mexica.

O que se sabe sobre a origem dos astecas?

Segundo a maioria dos historiadores, os astecas deixaram sua região de origem por volta do século 12. Após uma longa caminhada, teriam chegado ao vale de Anahuac (atual vale do México), que era bastante fértil, e ocuparam as ilhas a oeste do lago Texcoco, pois as do lado leste já eram habitadas. Há controvérsias quanto ao local de origem desse povo: a maioria dos estudiosos acredita que o mais provável era o norte do vale do Anahuac (atual Vale do México), outros acreditam que o local de origem dos astecas ficava ainda mais ao norte, no que hoje é o sudoeste dos Estados Unidos. Entretanto, outros estudiosos acreditam que Aztlán não passa de um lugar mítico. Seja como for, na época da chegada dos astecas ao vale existiam várias cidades-Estado. Nessa época, eles absorveram muitos elementos da cultura dos habitantes da cidade-Estado de Culhuacán.

Que momento pode ser considerado um marco decisivo para essa civilização?

Em 1325, os astecas ou mexicas fundaram a cidade de Tenochtlán. A primeira construção da cidade foi o templo, ao redor do qual construíram-se casas, palácios e mercados. Conforme a cidade cresceu, os astecas passaram a atacar e dominar outras povos da região, dentre os quais, os toltecas e os olmecas. O que se tornou conhecido como Império Asteca nasceu da aliança de Tenochtlán com outras duas cidades: Texcoco e Tlacopán.

Existe semelhança entre o modo de os astecas estabelecerem seu império e outros impérios do mundo antigo?

Geralmente, para evitar guerra e destruição, ao chegarem a uma cidade que pretendiam dominar, os astecas propunham que o povo do lugar se rendesse sem resistência. A razão disso era muito simples: o Império Asteca sobrevivia dos impostos cobrados nas cidades dominadas; como esses impostos não eram na forma de dinheiro, mas de produtos (peças de algodão, ouro em pó, artesanato, cogumelos alucinógenos...), não interessava aos astecas que as cidades que eles pretendiam dominar fossem destruídas.

Quantas pessoas viviam no Império asteca na época em que os espanhóis chegaram?

Não se sabe o número exato de habitantes do Império asteca naquela época, mas uma coisa é certa: para os padrões de então, a população do Império era numerosa. Estima-se que, antes da chegada dos espanhóis, havia cerca de 15 milhões de habitantes. Nos anos de 1520 e 1521, o número de habitantes caiu para cerca de quatro milhões, a principal causa dessa queda foi uma epidemia de varíola (o que facilitou a conquista pelos espanhóis). Mas mesmo com essa queda, a população do Império asteca ainda era numerosa se comparada com a de outros países na mesma época. Só para se ter uma ideia, em Tenochtán, viviam cerca de 250 mil pessoas, ou seja, a capital do Império asteca tinha mais habitantes do que várias cidades europeias na mesma época, dentre as quais, Londres e Madri. Após a chegada dos espanhóis, houve uma drástica queda na população que habitava os territórios do que havia sido o Império Asteca: em 1581, a população indígena era inferior a dois milhões de habitantes. Essa queda vertiginosa da população foi decorrente da violência da conquista espanhola, que veio acompanhada de fome e doenças.

Quais eram os principais grupos que formavam a sociedade asteca?

A sociedade asteca era bastante hierarquizada. As roupas indicavam a posição social da pessoa. Quem governava era o imperador, chamado de tlatoani (palavra que significava "aquele que fala" ou "aquele que comanda"). No início, o tlatoani era eleito por uma assembleia de guerreiros, mas, com o tempo, a função passou a ser hereditária, isto é, passava de pai para filho. Entre as responsabilidades do imperador estava a de fornecer alimentos para a população necessitada em períodos de seca ou carestia. Havia também uma espécie de "vice-imperador", o cinacoatl, cargo que era geralmente exercido por um irmão do imperador.

O que vinha abaixo deles?

Os nobres, grupo do qual faziam parte funcionários públicos encarregados da administração, sacerdotes e líderes militares. Geralmente, esses nobres eram parentes do imperador. Entre as tarefas dos sacerdotes, que eram celibatários [não podiam se casar], estava cuidar dos tempos, consultar os astros e guardar manuscritos. Embora não tivessem tarefas administrativas ou militares, os sacerdotes eram um grupo privilegiado, pois, assim como os outros nobres, eles também não eram obrigados a pagar impostos.

E abaixo dos nobres?

Abaixo dos nobres estavam os comerciantes e artesãos, que passavam o ofício de pai para filho. Entre os artesãos existiam ourives, joalheiros e os que trabalhavam com plumas. Cada grupo de artesãos era obrigado a pagar um imposto, que consistia em entregar parte do que se produzia. Apesar disso, eram bem remunerados e muito respeitados. Um dos privilégios dos artesãos é que eles estavam dispensados do trabalho obrigatório nas obras públicas (construção de pontes e templos etc.). Por sua vez, os comerciantes estavam divididos em dois grupos: o comércio local estava nas mãos das pessoas de origem humilde, enquanto o comércio exterior de artigos de luxo estava nas mãos dos grandes comerciantes. Esses grandes comerciantes ocupavam uma posição privilegiada na sociedade asteca, abaixo apenas da nobreza, e tinham um papel importante no expansionismo asteca: ao visitarem as cidades que os astecas pretendiam dominar, eles passavam aos líderes militares astecas informações valiosas a respeito das condições de defesa dessas cidades.

Quem constituía a base da pirâmide social?

Os maceualtin eram os cidadãos comuns, que constituíam a maioria da população. Os que eram agricultores não trabalhavam apenas nas terras para sua própria subsistência, mas também nas terras destinadas ao abastecimento dos nobres. Os maceualtin eram obrigados a trabalhar nas obras públicas. Também podiam ser obrigados a prestar o serviço militar, que, diga-se de passagem, era uma das poucas formas disponíveis de um cidadão comum ascender na sociedade asteca.

Existiam escravos entre os astecas?

Havia a classe dos tlatlacotin, que era formada por prisioneiros de guerra, condenados pela justiça civil, pessoas com dívidas de jogo (ou arruinadas pela bebida) e estrangeiros, remanescentes de povos que foram conquistados ou dizimados pelos astecas. A palavra tlatlacotin costuma ser traduzida por "escravos", mas o termo é inexato. Para saldar uma dívida, eles podiam trabalhar para um senhor. Essa relação estava mais próxima da servidão do que da escravidão por dívidas, pois os tlatlacotin podiam morar em suas próprias residências; no caso dos homens, podiam se casar com mulheres livres, e seus filhos eram considerados livres.

Maias

Uma história de mistérios que ainda não acabou

Érica Turci*
Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação
A civilização Maia foi uma das mais importantes civilizações das Américas e as ruínas das suas cidades foram encontradas por exploradores europeus e norte-americanos em meados do século XIX. Como não existiam informações precisas sobre essa civilização, sua história acabou sendo envolvida por um grande mistério: como cidades tão grandiosas, com construções esplêndidas poderiam ter sido esquecidas e recobertas pela floresta? A partir de então, inúmeras teorias surgiram para explicar quem teria sido os povos que ali viviam, muitas delas sem nenhum fundamento científico. Somente a partir de 1960 a civilização Maia começou a ser desvendada.

Ao contrário do que se pensa, os maias não eram um único povo, mas sim vários povos (etnias) que tinham a mesma origem linguística e cultural, e habitavam a América Central (sul do México, Guatemala, Belize, Honduras e El Salvador). Ainda não se sabe exatamente quando foi o início da ocupação desse território, as pesquisas arqueológicas demonstram que a agricultura já era praticada ali desde o 3º milênio a.C..

No 2º milênio a.C., as aldeias agrícolas começaram a se agrupar em torno de centros cerimoniais, para ali celebrarem suas festas religiosas e comerciarem, criando o que seriam as primeiras cidades da região. O trabalho agrícola durava quatro meses por ano, o que permitia que os camponeses pudessem se dedicar a outras atividades, principalmente a construções de templos e praças de comércio para o funcionamento dos centros cerimoniais.

Em torno do século 1 d.C., essas primeiras cidades faziam comércio entre si, e também com a distante Teotihuacan, no Vale do México, governada pelos olmecas. Muitos estudiosos acreditam que os olmecas influenciaram o desenvolvimento das cidades maias, já que muitas delas copiaram a estrutura arquitetônica e a organização política dos teotihuacanos.

As cidades-Estado

Com o tempo, tais centros urbanos se transformaram em centros administrativos e passaram a controlar as aldeias vizinhas. Os sacerdotes e os guerreiros assumiram o controle social e político dessas cidades. Eram sustentados pelos camponeses das aldeias, obrigados a pagar tributos, tanto em alimentos, quanto trabalhando na construção de templos, palácios, pirâmides, estradas, símbolos do poder da elite. Os comerciantes também faziam parte da elite dominante e controlavam o rico comércio de jade, obisidiana e cacau (esse fruto era muito importante na Mesoamérica, pois com ele fabricava-se o xocoatl, uma bebida exclusiva dos reis, e as suas sementes eram utilizadas como moeda pelos maias).

Esses inúmeros centros urbanos independentes, sustentados por dezenas de aldeias agrícolas ao seu redor, são a base da organização politica da Civilização Maia. Mesmo durante o período de maior desenvolvimento dos maias, o Período Clássico (entre os século 3 e 9 d.C.), não ocorreu a unificação entre as cidades, chamadas de cidades-Estado.

Hoje se conhecem mais de 40 dessas antigas cidades, ente elas: Tikal, Palenke, Calakmul, Uaxactun, Cobá, Copán, Piedras Negras, Uxmal. Muitas delas tombadas como Patrimônio Histórico da Humanidade pela Unesco. As cidades-Estado maias guerreavam constantemente umas com as outras, a fim de ampliar suas zonas de influência e, também, com o intuito de obter prisioneiros de guerra, que eram escravizados ou sacrificados em rituais religiosos.

A partir de 800 d.C., as mais importantes cidades-Estado maias foram sendo abandonadas uma a uma. Não se sabe com certeza quais as razões que levaram a isso, mas os historiadores acreditam que um conjunto de problemas atingiu os maias, obrigando-os a abandorem seus centros de poder:

  • o aumento populacional gerou necessidade de maior quantidade de alimento. Como a agricultura maia era feita através de queimadas e rotação de solo, rapidamente houve uma diminuição da fertilidade da terra, causando ondas de fome;

  • o fenômeno El niño e o desmatamento das florestas teriam causado uma série de mudanças climáticas na região, ocasionando a seca, que aumentou ainda mais a fome que já atingia as populações;

  • a fome ampliou as guerras entre as cidades, que lutavam por regiões férteis;

  • Teotihuacan, a cidade mexicana parceira comercial dos maias, entrou em declinio (não se sabe por que), o que teria atingido o comércio maia;

  • uma série de rebeleiões populares, devido à fome e à pobreza, teria ocorrido em várias cidades-Estado;

  • os guerreiros toltecas vindos do México conquistaram as cidades maias Chichén-Itzá e Uxmal, controlando quase todas as outras cidades em pouco tempo.

    Entre os séculos X e XVI, umas poucas cidades tentaram manter o controle sobre os povos maias, mas as guerras constantes e as crises econômicas não possibilitaram o "renascimento" da cultura maia, como tinha sido no Período Clássico. De qualquer forma, ao contrário do que se acredita, os maias jamais desapareceram. As grandes cidades foram abandonadas, mas as aldeias continuaram a abrigar os camponeses. Hoje em dia a língua maia ainda é falada por 7 milhões de pessoas e a cultura maia é presevada por centenas de povos da América.

    A cultura maia

    Por inúmeros motivos os maias são chamados de "Gregos do Novo Mundo". Como vimos antes, assim como os gregos antigos, os maias nunca formaram um Estado unificado. Além disso, o grande desenvolvimento artístico e científico fez com que os maias fossem comparados aquele povo antigo europeu.

    A arquitetura das grandes cidades maias conta com grandes templos, palácios e pirâmides em degraus. Apesar de essas construções conterem uma série de imperfeições (como paredes tortas, ângulos nem sempre corretos), o efeito que causa a sua grandiosidade serve aos seus propósitos: deixar o visitante pasmo com o poder do povo que ali habitava.

    A cerâmica maia está entre as mais refinadas do mundo. Os trabalhos feitos em pedras são primorosos, ainda mais por que os maias não utilizavam nem os metais para a confecção de seus monumentos e nem a roda para transportar as pedras (já que consideravam que a utilização de meios que facilitavam o trabalho retiraria dele seu valor sagrado).

    A escrita maia é uma das mais complexas do mundo, composta por fonogramas (símbolos que representam sons) e por ideogramas (símbolos que representam idéias). Pela complexidade acredita-se que somente a elite maia tinha acesso à leitura e a confecção da escrita, mas de qualquer forma, a escrita fazia parte do cotidiano nas grandes cidades. Estelas contando a história ou o feito de um rei faziam parte do cenário das praças públicas maias. Os livros maias (chamados hoje de códices) deveriam ser muitos no Período Clássico, mas quando os espanhóis dominaram a região destruiram todos os códices que encontraram. Hoje restam somente três códices conhecidos: o de Dresden, o de Madri e o de Paris.

    Atualmente 85% da escrita maia já foi decodificada, mas a cada nova descoberta arqueológica, novos símbolos aparecem, o que dificulta o trabalho dos pesquisadores.
    O mais famoso livro maia é o Popol Vuh, livro escrito por um dos povos maias, os quichés, e conta a origem do mundo segundo a religião maia.
    Os maias desenvolveram a matemática, chegando a conceber o conceito do número zero, muito antes que os europeus, que eles representavam com o símbolo de um cesto vazio. Também eram excelentes astrônomos, e sem qualquer instrumento de medição do tempo ou de observação, conheciam com exatidão o movimento da Terra, da Lua e de Vênus. Os maias desenvolveram três calendários, que eram usados simultaneamente:
     

  • o calendário lunar, que era utilizado pelos sacerdotes para as suas previsões e celebrações;

  • o calendário solar, dividido em 18 meses de 20 dias, ao que se somava cinco dias no final (chegando aos 365 dias);

  • o calendário venusiano (de Vênus), de contagem longa, a partir do qual calculava-se o tempo histórico, que segundo os maias teria se iniciado no ano 3114 a.C do calendário cristão.

    A religião

    "(...) Tratemos agora de criar seres obedientes, respeitosos, que nos sustentem e alimentem". (Popol Vuh, parte I, capítulo 2).

    Essa frase teria sido dita pelos deuses Tepeu e Gucumatz (também chamado de Kulkucán, a "serpente emplumada"), respectivamente o Criador e o Formador, quando resolveram criar o Homem. Depois de algumas tentativas, os deuses perceberam que os homens precisavam "de sangue, de substância, de umidade" para existirem plenamente, e dessa forma foi doado aos homens o sangue divino.

    A base da religiosidade maia pode ser entendida a partir dessa obrigação que os deuses tinham lhes imposto: os povos deveriam obedecer, respeitar e alimentar os deuses. E o alimento que mais contentava os deuses era o sangue, que eles próprios doaram aos homens, por isso os sacrifícios de animais e de seres humanos eram comuns. Às vezes nem era necessário que o homem fosse morto num ritual, o furo nas orelhas, na língua, nos dedos e a oferenda do sangue já era suficiente para alimentar as divindades.

    Outra característica da religiosidade maia era a crença num mundo cíclico, pois tudo se repetia eternamente. A cada 52 anos, quando os calendários solar e lunar voltavam conjuntamente ao ponto inicial, os mais acreditavam ter se encerrado um ciclo, e a partir da nova contagem de tempo tudo se repetiria.

    Hoje em dia muito se fala do final de mundo previsto pelos maias (em dezembro de 2012). Mas o que na realidade a cultura maia acreditava era que um ciclo terminaria nessa data, e outro se iniciaria.

  • Mesopotâmia

    Evolução econômica, política e militar

    Érica Turci*
    Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação
    Divulgação/Museu de Arqueologia-USP
    Reprodução de placa de argila com escrita cuneiforme

    Na Alta Mesopotâmia, região ocupada por uma das chamadas Civilizações Hidráulicas, as cheias dos rios Tigre e Eufrates ocorriam entre os meses de abril e maio, quando as geleiras das montanhas da Armênia derretiam e chegava a temporada das chuvas. Registros da época descrevem alagamentos que cobriam o solo "até onde os olhos não alcançam", muitas vezes destruindo tudo ao redor.

    As técnicas para controlar tais cheias se desenvolveram ao mesmo tempo em que a civilização chegou aos povos mesopotâmicos. O trabalho árduo, de todos os membros das aldeias, possibilitou a construção de obras hidráulicas, como muros de contenção, diques, canais de irrigação e poços de armazenamento de água para o período da seca.

    E exatamente por que esses trabalhos exigiam grande quantidade de pessoas em atividade constante (limpando, reformando, ampliando) e um bom planejamento, surgiram, por volta de 3.700 a.C, Estados centralizadores, que coordenavam tais tarefas.

    Estados teocráticos

    Especialistas na história da Mesopotâmia acreditam que os primeiros líderes políticos dessas cidades eram escolhidos por uma assembléia de cidadãos, já que a população que as habitava era pequena e cada família oferecia todos os seus membros aptos para as exaustivas tarefas nas obras de irrigação.

    A elite privilegiada era formada por sacerdotes que, a fim de aplacar a fúria dos deuses e impedir novos e graves alagamentos, arrebanhavam mão-de-obra para a construção de templos que serviam para o culto religioso e, também, como celeiro para o excedente de produção a ser oferecido ao panteão de divindades. Na prática, contudo, os grãos sustentavam os sacerdotes, representantes dos deuses na terra. Aos poucos, os reis foram sendo associados a essa elite religiosa, surgindo os Estados teocráticos.

    Economia e surgimento da escrita

    A agricultura floresceu às margens do Tigre e do Eufrates. A base da alimentação era composta por cereais, principalmente a cevada e, em segundo plano, o trigo. O linho e o algodão também eram plantados. Com as obras hidráulicas, o excedente agrícola possibilitava o sustento dos reis, de suas famílias e de um número cada vez maior de funcionários públicos.

    O comércio, à base de troca, também prosperou, pois a Mesopotâmia era (e ainda é) muito pobre em metais, pedras preciosas ou semipreciosas e madeira. Quanto mais a produção agrícola aumentava, mais os reis tinham condições de ir buscar em terras distantes produtos para ampliar a produtividade e ostentar seu poder.

    Além da agricultura, povos nômades viviam da criação do gado miúdo (cabras, ovelhas, porcos), o que complementava a alimentação e o comércio das cidades. Daí, também, ser necessária a contabilidade da receita que se ampliava. A escrita se desenvolveu, portanto, para controlar a produtividade. As primeiras plaquetas de argila que contêm a escrita cuneiforme demonstram claramente essa importância. E tais plaquetas estão entre as mais antigas formas de escrita do homem.

    Invasões e guerras

    Porém, todo esse desenvolvimento trouxe sérios problemas para essas primeiras cidades: a rivalidade pelas terras mais férteis e a cobiça dos povos vizinhos. Ao contrário de outra civilização que se desenvolvia ao mesmo tempo, o Egito, as condições geográficas da Mesopotâmia não ofereciam proteção natural, o que ocasionou várias ondas de ataques, principalmente de povos vindos do leste.

    Os mesopotâmicos tiveram que se armar. As lutas eram constantes, tanto entre as cidades, quanto contra os saqueadores e conquistadores externos. Os líderes políticos transformaram-se em líderes militares e, pela primeira vez na história, um exército regular passou a ser mantido pelo Estado.

    Segundo John Keegan, especialista em história militar, não foi o desenvolvimento técnico que fez os exércitos mesopotâmicos serem temidos, mas seu poder de organização, o que prova, mais uma vez, a capacidade de mobilização e de planejamento de suas cidades. Os registros mostram que, por volta de 2.500 a.C., as batalhas eram comuns na região. Elmos e armaduras (ainda muito primitivas) foram encontrados em vários sítios arqueológicos.

    No que diz respeito à arte da guerra, a Mesopotâmia tem uma vantagem geológica, pois possui uma reserva de estanho considerável. O estanho misturado ao cobre produz o bronze, metal muito mais duro do que o cobre, utilizado por muitos de seus inimigos.

    Os assírios

    Dentre os povos que governaram o vale dos rios Tigre e Eufrates, em se tratando da arte militar, os assírios se destacam. Povo rude, acostumado aos rigores do clima desértico, aprenderam rapidamente - com as tribos das estepes asiáticas - a usar o cavalo como arma de guerra, tornando-se aurigas temidos.

    O carro de guerra possibilitava dupla vantagem: a força animal, de ataque e locomoção, e a carroça (aperfeiçoada sobre duas rodas), que podia levar o condutor do animal e mais um arqueiro. Ao usarem seus carros de guerra (bigas) para conquistar a Mesopotâmia, não encontraram muita dificuldade, já que as infantarias das cidades quase nada podiam fazer para deter a força conjunta do cavalo e do arqueiro. Dessa forma, os assírios conseguiram dominar a Mesopotâmia e estender suas fronteiras para muito além do vale de seus rios.

    Mesmo assim, apesar de suas proezas tecnológicas, culturais e militares, marcos na evolução do homem, os povos da Mesopotâmia acabaram vencidos e conquistados pelos persas, uma civilização que tinha suas bases político-econômicas na expansão territorial

    Mesopotâmia - Cultura

    A Biblioteca de Nínive e Gilgamesh

    Érica Turci*
    Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação
    A Biblioteca de Nínive, um dos mais importantes legados da Mesopotâmia para a história, foi encontrada no século 19 por arqueólogos ingleses. Ela pertencia ao rei assírio Assurbanipal 2º (século 7 a.C.) e era composta por uma coleção de mais ou menos 25 mil plaquetas de argila (material usado para escrita na época), com textos em cuneiforme, muitos deles bilíngües, em sumeriano e acádico.

    Considerada a primeira biblioteca da história, a Biblioteca de Nínive guardava compilações de diversos tipos de texto: cartilhas sobre o mundo natural, geografia, matemática, astrologia e medicina; manuais de exorcismo e de augúrios; códigos de leis; relatos de aventuras e textos religiosos.

    Sabe-se que os mesopotâmicos tinham muito apreço pela escrita.
    Escolas para escribas (edubba) eram comuns nas cidades da época. Uma parábola babilônica dizia: "A escrita é a mãe da eloqüência e o pai dos artistas".

    O escriba tinha grande status na sociedade e, a se julgar pela quantidade de plaquetas de argila encontradas em diversos sítios arqueológicos, pode-se imaginar a importância que esse povo dava para o registro escrito. Tamanho acervo de documentos contribuiu muito para a compreensão da cultura da Mesopotâmia.

    Literatura

    A mais famosa obra literária da Mesopotâmia é a Epopéia de Gilgamesh. Gilgamesh é uma figura semilendária e teria sido rei da cidade-estado de Uruk, por volta de 2.700 a.C. Mas tudo que se conhece a respeito desse rei deve-se à epopéia construída em torno de seu nome, encontrada em 12 plaquetas de argila que constam do acervo da Biblioteca de Nínive.

    A lenda conta a grande amizade entre o rei Gilgamesh, culto e refinado, e Enkidu, um homem rude, nascido e criado no deserto. Juntos, os dois viajam por terras distantes, buscando aventuras e glórias. No entanto, Enkidu adoece e morre. E, a partir desse momento, Gilgamesh passa a buscar a imortalidade.

    Essa procura o leva até terras distantes, numa terrível e maravilhosa viagem, para encontrar Utnapishtim, homem abençoado pelos deuses com a imortalidade, após ter sobrevivido ao dilúvio. Utnapishtim, no entanto, faz com que Gilgamesh compreenda que a imortalidade não é característica dos homens:

    "Gilgamesh, onde queres chegar nas tuas andanças?
    A vida que estás procurando, nunca encontrarás.
    Pois, quando criaram os homens, os deuses decidiram
    Que a morte seria seu quinhão, e detiveram a vida em suas próprias mãos.
    Gilgamesh, enche o teu estômago,
    Faze alegres o dia e a noite,
    Que os teus dias sejam risonhos.
    Dança e toca música noite e dia,
    [...]
    Olha para o filho que está segurando a tua mão,
    E deixa que tua esposa encontre prazer nos teus braços.
    Só dessas coisas é que os homens devem cogitar."


    Segundo o especialista em assiriologia, Jean Bottéro (em matéria publicada no jornal O Estado de S. Paulo, Caderno 2, 02 de maio de 1996), "o autor da epopéia quis nos ajudar a encarar com coragem, com o exemplo de um fracasso tão grande, a inevitável interrupção de nossa vida".
     
     
     
     
     
     
     

    GEOGRAFIA

    Desertificação

    Causas e consequências do mau uso do solo

    Luiz Carlos Parejo*
    Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação
    A desertificação é definida como um processo de destruição do potencial produtivo da terra por meio da pressão exercida pelas atividades humanas sobre ecossistemas frágeis, cuja capacidade de regeneração é baixa.

    A ONU classifica de desertificação apenas os danos nas áreas de ocorrência localizadas nas regiões de clima semiárido, árido e subúmido seco. Esse processo provoca três tipos de impactos: ambientais, sociais e econômicos.

    <> <>
    Página 3
    Áreas em destaque: as mais claras já são desertos,as mais escuras apresentam maior risco de desertificação


    O problema da desertificação passou a despertar o interesse da comunidade científica há 80 anos, contudo somente nos últimos dez anos passou a ser destacado como um sério problema ambiental, devido ao seu impacto social e econômico, uma vez que o processo ocorre de forma mais acentuada em áreas correspondentes aos países subdesenvolvidos. Além disso, a perda de solo agricultável vem aumentando significativamente, agravando ainda mais a situação das economias desses países.

    É importante ressaltar, porém, que o processo de desertificação ganhou relevância a partir de um intenso processo de degradação do solo que ocorreu nos estados americanos de Oklahoma, Kansas, Novo México e Colorado. Tal processo levava essas áreas a uma perda progressiva das condições de agricultura e à desagregação do solo. Nessas áreas ocorre o clima semiárido, portanto os cientistas passam a classificar o problema como desertificação.

    Semiárido

    Desde então os cientistas vêm acompanhando esse fenômeno nas áreas onde ocorre o clima semiárido em todo o mundo, principalmente naquelas que apresentam secas periódicas, pois essas áreas se tornam suscetíveis ao processo de desertificação pelas próprias características físicas dos seus solos, que são rasos, ácidos ou salgados, com pouca vegetação.

    Na década de 70, no Sahel, sul do Saara, na África, ocorreu uma grande seca, que aliada à fragilização do solo, tornou inviável a agricultura, matando de fome meio milhão de pessoas. Após essa catástrofe foi realizada em Nairóbi, no Quênia, a Conferência Internacional das Nações Unidas para o Combate à Desertificação.

    Nessa conferência criou-se um programa de ação internacional visando implementar ações para combater o processo de desertificação no mundo. Foi elaborado o Plano de Ação de Combate à Desertificação - PACD, com objetivos de âmbito mundial. No entanto, já se realizaram avaliações do plano e concluiu-se que seus resultados foram bastante modestos. Muitos países não se comprometeram com o PACD e nada efetivamente fizeram para frear o processo em seus territórios.

    Agenda 21

    A situação agravou-se, principalmente, nos países subdesenvolvidos, e o debate continuou no meio científico e na ONU durante toda a década de 1980. Em 1992, na ECO-92, realizada no Rio de Janeiro, consolidou-se por fim um documento, a chamada Agenda 21, que, em seu capítulo 12, trata do fenômeno da desertificação como sendo "a degradação da terra nas regiões áridas, semiáridas e subúmidas secas, resultantes de vários fatores, entre eles, a variação climática e as atividades humanas". Por degradação da terra, entende-se a degradação dos solos, dos recursos hídricos, da vegetação e a redução da qualidade de vida das populações afetadas.

    Causas da desertificação

    De maneira geral, como causas da desertificação podem ser apontadas:
  • Sobreuso ou uso inapropriado da terra (monoculturas comerciais como a cana-de-açúcar, soja, trigo, no Brasil);

  • Desmatamento;

  • Utilização de técnicas agropecuárias impróprias;

  • Exploração descontrolada de ecossistemas frágeis;

  • Queimadas;

  • Mineração;

  • Uso excessivo de agrotóxicos;

  • Poluição;

  • Secas;

    Além dos fatores citados, causados pelo homem, há o fenômeno climático chamado de El Niño, que colabora para o agravamento do processo de desertificação. Sobrecarrega áreas semiáridas com longas secas e posteriormente causa inundações com chuvas intensas. Esse fator, porém, é controverso, pois muitos cientistas acreditam que a desertificação acaba por interferir nas mudanças climáticas, como o regime de chuvas.

    Atualmente vários países apresentam sinais de desertificação em seus territórios como o EUA, o sul do continente africano, Austrália e Brasil, por exemplo.

    Consequências da desertificação


  • Redução das áreas cultivadas;

  • Diminuição da produtividade agropecuária das áreas afetadas;

  • Redução dos recursos hídricos;

  • Aumento da poluição hídrica;

  • Aumento das cheias;

  • Aumento de areia nas áreas afetadas;

  • Destruição da fauna e da flora;

    Essas situações relacionam-se à questão ambiental, contudo devemos lembrar que existem também os impactos de ordem social e econômica das áreas afetadas, como:

  • Migração descontrolada para as áreas urbanas;

  • Desagregação familiar devido ao êxodo;

  • Crescimento da pobreza;

  • Aumento das doenças devido à falta de água potável e subnutrição;

  • Perda do potencial agrícola;

  • Perdas de receita econômica.

    Contudo, é preciso ressaltar que o processo de desertificação pode ser controlado, evitado, e até mesmo revertido, desde que haja o envolvimento dos governos, oferecendo auxílio técnico para o manejo dessas áreas e incentivando a preservação ambiental, de maneira que não ocorra uma sobrecarga de problemas nas áreas de risco. Nos locais onde o processo de desertificação já se instalou são necessários investimentos para sua contenção; porém, o custo é da ordem de bilhões de dólares.


  • Desigualdade social

    Concentração de renda no Brasil é histórica

    Ronaldo Decicino*
    Especial para Página 3 Pedagogia & Comunicação
    Agência Brasil
    Favelas são um símbolo das desigualdades sociais do Brasil

    Ao longo da história, o Brasil vem perdendo a oportunidade de construir um desenvolvimento integral que proporcione um salto na qualidade de vida de seu povo. Essa situação cria contrastes e produz disparidades internas e externas. O Brasil econômico se distancia do Brasil social e isso faz do nosso país um líder em desigualdades sociais.

    De um lado há o Brasil que deu certo. Aquele em que as pessoas possuem tudo o que o dinheiro pode comprar. Têm acesso ao que há de melhor em termos de educação, alimentação, lazer, moradia etc. De outro lado há o país dos miseráveis, dos que passam fome. Dos que não têm acesso ao mercado de trabalho, à educação, à saúde, à habitação, à terra. É o país que não deu certo.

    Parecem dois mundos distintos, dois países diferentes, e o primeiro faz de conta que o outro não existe.

    Pobres mais pobres

    Indicadores nacionais e internacionais atestam as disparidades. O Brasil subiu uma posição no ranking das maiores economias do mundo em 2006, de acordo com levantamento divulgado em 17 de junho de 2007 pelo Banco Mundial (Bird), e chegou à 14ª posição. A lista foi elaborada com base no Produto Interno Bruto (PIB) - soma de todas as riquezas produzidas em um ano - de cada país, convertido em dólares. No entanto, esse mesmo Brasil é também um dos países onde mais ocorre a concentração de renda. O resultado disso é que os pobres estão cada vez mais pobres e os ricos cada vez mais ricos.

    Com essa realidade, o país acaba em condição semelhante à dos países mais pobres do mundo, onde a disparidade entre ricos e pobres é marcada exatamente pela injustiça social e pelo abuso dos governantes. A concentração de riqueza no Brasil é tão cruel que agrada os ricos e ao mesmo tempo esmaga os pobres, tanto em períodos de expansão como de retração econômica.

    Desemprego e desigualdade

    Tenta-se justificar essa política de concentração comparando-a com a receita de um bolo, segundo a qual é preciso primeiro fazer o bolo crescer para depois distribuí-lo. No entanto, o que ocorre é que a distância entre pobres e ricos aumenta cada vez mais.

    Como exemplo dessa situação de disparidades, basta ver como muitos trabalhadores passaram da economia formal para o mercado informal e como aumenta o desamparo social, o trabalho precário e o desemprego. Exemplos não faltam.

    O aumento do desemprego e a contenção de salários têm sido os mais eficientes alimentadores das desigualdades dos dois "Brasis". Se por um lado existe o Brasil que ostenta primeiros lugares em indicadores econômicos, por outro o país desponta com suas mazelas sociais: milhões de brasileiros passam fome e o salário mínimo é um dos mais baixos do mundo.

    Educação e desenvolvimento

    O desenvolvimento de um país está diretamente relacionado com seu investimento em educação. Nesse aspecto, o Brasil está entre os países com maior número de analfabetos, além de contar com milhões de crianças entre sete e 14 anos fora da escola e sem grandes perspectivas de que terão alguma escolaridade até a idade adulta.

    A situação econômica interfere negativamente na escolaridade e na qualidade de ensino. Muitas crianças matriculadas na primeira série do ensino fundamental abandonam a escola antes do final do ano. Outras deixam a escola para trabalhar e complementar a renda familiar.

    Enfrentar disparidades

    O país que ocupa lugar de destaque na produção mundial de grãos, cereais, açúcar, café, laranja, rebanho bovino, entre outros, ao mesmo tempo apresenta índice alarmante de mortalidade infantil. Milhares de crianças morrem de fome todos os anos nesse país de belos indicadores econômicos.

    Esses fatos mostram o quanto o Brasil econômico caminha distante do Brasil social. Enfrentar as disparidades e acabar com as desigualdades são desafios antigos que precisam ser vencidos. A desconcentração de renda pode se tornar um elemento dinamizador da economia e, conseqüentemente, a esperança de um futuro melhor para muitos brasileiros. Afinal, quanto maior a distância entre as classes sociais, maior a pobreza geral da sociedade.


    Desmatamento

    Depois da mata Atlântica, a Amazônia

    Ronaldo Decicino*
    Especial para Página 3 Pedagogia & Comunicação
    Divulgação/Greenpeace
    Queimadas são utilizadas para áreas férteis da floresta darem lugar à agricultura ou pecuária

    O desmatamento é uma das intervenções humanas que mais prejudicam a sustentabilidade ambiental do planeta. Seus impactos podem causar sérios danos ao clima, à biodiversidade e às pessoas. Pode-se dizer que o desmatamento nas florestas brasileiras começou com a chegada dos portugueses ao nosso país, em 1500.

    Interessados no lucro do comércio de pau-brasil, os europeus iniciaram a exploração da mata Atlântica, que cobria 15% do que atualmente é o território nacional, espalhando-se por aproximadamente 1,3 milhão de km2 na área litorânea do Brasil - do Rio Grande do Norte ao litoral de Santa Catarina.

    No entanto, a destruição em larga escala da Mata Atlântica iniciou-se na segunda metade do século 19, quando o espaço passou a ser ocupado pela lavoura de café. Atualmente, existem apenas 7% de sua cobertura original. Apesar de sofrer ainda devastação em diversos pontos, a Mata Atlântica é o bioma brasileiro mais bem protegido pela legislação.

    Floresta Amazônica

    O desmatamento em nosso país tem sido constante. Depois da Mata Atlântica, chegou a vez da floresta Amazônica. Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), baseados em levantamentos por satélite, indicam que a Amazônia perdeu, até 2007, cerca de 700 mil km2 de floresta (18% da região).

    A Amazônia ocupa uma área que se estende do oceano Atlântico às encostas orientais da Cordilheira dos Andes. Cobre mais de 6,5 milhões de km2 na parte norte da América do Sul, passando por nove países: Brasil, Venezuela, Colômbia, Peru, Bolívia, Equador, Suriname, Guiana e Guiana Francesa. 69% dessa área pertence ao Brasil.

    Em nosso país, esse bioma abrange os Estados do Pará, Amazonas, Acre, Amapá, Rondônia e Roraima, bem como parte do Estados do Mato Grosso, Tocantins e Maranhão, totalizando aproximadamente 5.217.423 km2 - a chamada "Amazônia Legal". É comum as pessoas confundirem o desmatamento na Amazônia, com o que acontece no Estado do Amazonas, e isso limita a compreensão do verdadeiro problema.

    Desmatamento

    O processo de desmatamento, normalmente, se inicia com a abertura oficial ou clandestina de estradas que permitem a expansão humana e a ocupação irregular de terras, visando à exploração predatória de madeiras nobres. Existe uma relação direta entre a economia e o aumento da taxa de desmatamento.

    Na Amazônia, essa taxa é crescente em função de uma dinâmica voltada para atender demandas do mercado externo. Isso impulsiona atividades econômicas como a extração de madeira, a pecuária e, mais recentemente, a agroindústria.

    A Floresta Amazônica está sendo devastada como se não houvesse o risco de acabar. Calcula-se que aproximadamente 20.000 km2 são desmatados anualmente em toda região amazônica. Se esse ritmo continuar, vai se chegar a um ponto em que não haverá mais volta: a maior floresta tropical do planeta será substituída por uma vegetação típica do cerrado em menos de 50 anos. Alterações significativas devem começar a ocorrer quando a perda da cobertura vegetal chegar a 20%, um índice que está muito próximo de ser atingido.

    Queimadas e pastagens

    Técnica comum utilizada na agropecuária, as queimadas costumam ser utilizadas para que áreas férteis da floresta cedam lugar à agricultura ou à criação de gado. O fogo, utilizado para queimar a mata e dar lugar às lavouras e aos pastos, leva consigo árvores centenárias e destrói o habitat de inúmeras espécies animais e vegetais, consumindo a pouca riqueza natural do solo.

    A soja avança sobre pastos antigos e capitaliza pecuaristas que abrem cada vez mais novas áreas na mata. Até 2004, só no Brasil, cerca de 1,2 milhão de hectares de florestas foram convertidos em plantações de soja. Cerca de 12% da Amazônia virou pasto. Os agricultores costumam desmatar a floresta para plantar capim (visando a criação de gado) ou desenvolver cultivos agrícolas.

    A curto prazo (de um a três anos, no máximo) tem-se a impressão de que a agricultura e a pecuária são lucrativas. Mas, depois de alguns anos, o solo se esgota e a terra torna-se cada vez menos produtiva.

    As facilidades de créditos oferecidas por bancos da região para o setor da pecuária e para o fortalecimento da agricultura contribuíram ainda mais para o desmatamento nos últimos tempos. As inúmeras clareiras abertas na floresta expõem o solo à erosão e impedem a realização de mecanismos próprios para a recuperação do ecossistema original.

    Madeireiras e estradas

    Atualmente, há mais de 3 mil empresas cortando árvores na Amazônia - a geração de empregos criados pelas madeireiras só perde para atividades como a agricultura e a pesca. A soma da área de madeireiras estrangeiras instaladas na Amazônia totaliza uma área maior que a Bélgica.

    Para cada unidade retirada, os madeireiros danificam pelo menos outras 15 árvores, pois ao cair, um único tronco leva consigo outros cinco ou seis, presos a ele por cipó, além de avariar outros tantos que estiverem em seu caminho. Desde 2003 foram apreendidos mais de 700 mil m3 de madeira em tora provenientes da extração ilegal.

    Com o crescimento econômico causado por atividades como pecuária e extração de madeiras, ocorre também o aumento da população da região Norte, que, aliado às ações ilegais de madeireiros e às pressões urbanas, causam grande impacto ecológico. A colonização se dá ao longo das estradas clandestinas. Mais de 80% das queimadas acontecem perto das rodovias.

    O tamanho das áreas de desmatamento está de certa forma ligado diretamente à distância das estradas, uma vez que a instalação de novos grupos geralmente ocorre próximo às estradas antigas e novas, abertas na floresta.

    Em nenhum lugar do mundo tantas árvores são derrubadas como na Amazônia, segundo dados da ONU. No Brasil, a derrubada de árvores é 30% maior que na Indonésia, a segunda colocada em devastação ambiental. Para cuidar de toda área da Amazônia Legal, o Ibama conta com 257 fiscais, ou seja, um funcionário para cada 18.500 km2.
     

    Doutrina Bush

    Guerra contra o terrorismo e o "eixo do mal"

    Cláudio Mendonça*
    Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação
    Divulgação/Embaixada dos Estados Unidos
    O presidente George W. Bush
    Em 11 de setembro de 2001, dois aviões foram lançados com tripulação, seus passageiros e terroristas suicidas sobre as duas torres do World Trade Center, em Nova York. Essa foi a parte mais "espetacular" de uma seqüência de atentados: o Pentágono foi atingido por outro avião, enquanto mais um caiu próximo à cidade de Pittsburg, antes de atingir o alvo - provavelmente a Casa Branca em Washington. De fato, tudo parecia um grande espetáculo, com cenas ao vivo, mostrada pelas TVs de todo o mundo.
    A organização terrorista Al Qaeda foi responsabilizada pelo ataque aos Estados Unidos. A base da Al Qaeda estava sediada no Afeganistão, onde se encontrava o seu principal líder, o milionário de origem saudita Osama Bin Laden. O Afeganistão, controlado pelo grupo islâmico radical Talebã, se recusou a entregar Osama Bin Laden e a destruir a base da organização terrorista. Em 7 de outubro de 2001, tropas anglo-americanas atacaram o Afeganistão com o apoio do grupo afegão anti-talebã, Aliança do Norte. A derrota do regime Talebã foi seguida da ocupação do país por tropas anglo-americanas e a instalação no poder de um governo pró-Estados Unidos.
    Os Estados Unidos utilizaram os atentados de 11 de setembro como justificativa a uma "cruzada mundial contra o terror" em defesa da "paz mundial" e da sua segurança interna. O terrorismo, os governos que lhe dão apoio e abrigo e os países que desenvolvem armas de destruição em massa e que contestam o poder norte-americano, foram colocados como os principais alvos da nova doutrina de segurança nacional. Passaram a ser classificados em um agrupamento denominado "Eixo do Mal". Num primeiro momento, de forma declarada, constavam neste grupo o Iraque, o Irã e a Coréia do Norte, já que o Afeganistão já havia sido ocupado pelas tropas norte-americanas.
    O “Eixo do Mal”
    A expressão "Eixo do Mal" foi utilizada pelo presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, em seu discurso anual no Congresso norte-americano em 2002, para se referir a três países (“Estados vilões”) que constituíam uma grave ameaça ao mundo e à segurança dos Estados Unidos: Coréia do Norte, Irã e Iraque. Estes países, segundo Bush, desenvolviam armas de destruição em massa ou patrocinavam o terrorismo regional e mundial, ou faziam as duas coisas ao mesmo tempo. Mais tarde os Estados Unidos incluíram também Cuba, Líbia e Síria a este seleto grupo de países. A expressão eixo do mal é uma dupla referência histórica: eixo lembra o eixo Berlim-Roma na Segunda Guerra Mundial (nazifascismo) e mal retoma o termo império do mal, forma como o governo Reagan se referia à União Soviética durante a Guerra Fria. Um eixo do mal mantém latente a ameaça exterior e justifica a necessidade de manutenção de um expressivo orçamento, do governo Bush, na defesa.


    A Doutrina Bush - a guerra preventiva

    Em 2002, o presidente George Bush divulgou o documento "A estratégia de segurança nacional dos Estados Unidos", que ficou conhecido como "Doutrina Bush". Este documento apresenta as estratégias político-militares que passaram a ser adotadas pelo país em nome da defesa nacional, frente às ameaças a que poderiam estar sujeitos o território e o povo norte-americanos.
    O documento declara a intenção dos Estados Unidos em agir militarmente, por conta própria e decisão unilateral em nome do direito de autodefesa, de maneira preventiva e antecipada: atacar antes e perguntar depois. Dessa forma, os Estados Unidos, em nome do anti-terrorismo e do combate de países considerados e avaliados como ameaçadores aos seus interesses, justificaram as suas ações e procuraram torná-las legítimas diante da opinião pública norte-americana e internacional.
    A Doutrina Bush determinou ainda o fortalecimento das alianças com outros Estados para derrotar o terrorismo no mundo. Mas a arrogância da declaração norte-americana deixou claro que, em nome da "paz e da segurança internacional", os Estados Unidos não permitirão a ascensão de qualquer potência, a ponto de rivalizar com o seu poder e a sua liderança militar, alcançada desde o fim da Guerra Fria e da URSS. Ao afirmar a sua condição de superpotência militar global, a Doutrina Bush aponta para o alargamento dos interesses econômicos norte-americanos. Parte desses interesses está associada à garantia de controle das principais fontes estratégicas de energia, com a intensificação de sua influência no Oriente Médio e na Ásia Central, regiões detentoras das maiores jazidas de petróleo e gás natural do planeta.

    Terrorismo e ataques preventivos

    A guerra e a ocupação do Iraque, embora façam parte das ações pragmáticas da Doutrina Bush de guerra preventiva, não foram apoiadas em provas de que este país desenvolvesse armas de destruição em massa (justificativa para a sua invasão) ou financiasse o terror. Depois dos Estados Unidos declararem a vitória sobre o Iraque, de terem conseguido a prisão de Saddan Hussein e o estabelecimento de um governo provisório, a situação do Iraque permaneceu incontrolável.
    Ao contrário do que propõe a Doutrina Bush, os ataques terroristas, a insurreição de grupos armados contra a ocupação estrangeira e os conflitos entre as principais etnias ameaçam a estabilidade do país e apontam para uma perspectiva de total descontrole da situação. Os norte-americanos usaram seu poderio militar para favorecer suas empresas do setor petrolífero e da construção civil e ampliarem sua influência no Oriente Médio.
    A Doutrina Bush mudou a direção das relações internacionais dos Estados Unidos, substituindo os princípios da contenção da época da Guerra Fria - baseada na persuasão e dissuasão - pelo de ataques preventivos. Consolidou o unilateralismo como princípio norteador da nova política externa norte-americana, indiferente aos tratados e instituições internacionais.

    Efeito estufa

    Mecanismo atmosférico mantém o planeta aquecido

    Ronaldo Decicino*
    Especial para Página 3 Pedagogia & Comunicação
    Geralmente, as pessoas se confundem e crêem que o efeito estufa tem relação com a camada de ozônio. Contudo, embora estejam relacionados à atmosfera, o efeito estufa e a camada de ozônio não são a mesma coisa.

    O efeito estufa é um mecanismo atmosférico natural que mantém o planeta aquecido nos limites de temperatura necessários para a vida na Terra. Esse fenômeno atmosférico acompanha a vida do planeta desde o início da sua existência. Já a camada de ozônio é uma parte da atmosfera que protege a Terra dos raios ultravioleta (UV) emitidos pelo Sol, raios estes que podem trazer sérios danos aos seres vivos. Nos humanos, por exemplo, causam o câncer de pele.

    Mas voltando ao efeito estufa, alguns gases que compõem a atmosfera funcionam como o vidro de uma estufa, que deixa passar a luz do sol para o seu interior, e aprisionam esse calor gerado dentro da "estufa". Esse calor mantém a Terra aquecida nos níveis que permitem a existência da vida.

    Como funciona o efeito estufa

    Se não houvesse a proteção do efeito estufa, os raios solares que aquecem a Terra seriam refletidos para o espaço sideral e o planeta perderia calor. A Terra apresentaria temperaturas médias abaixo de 10ºC negativos, pois não teria uma atmosfera espessa o suficiente para refletir o calor de volta para o planeta, gerando um ambiente não apropriado à vida. Planetas como Vênus e Marte, por exemplo, não possuem esse mecanismo e por isso podem atingir temperaturas elevadas durante o dia, acima de 200ºC, e muito reduzidas durante a noite, menos de 100ºC.

    O efeito estufa ocorre quando uma parte da radiação solar refletida pela superfície terrestre é absorvida por determinados gases presentes na atmosfera, entre os quais merecem destaque: o gás carbônico ou dióxido de carbono (CO2), o metano ou gás natural (CH4) e o óxido nitroso (N2O). Como resultado desse processo, o efeito estufa impede que o calor emitido pelo Sol retorne ao espaço. Assim, o calor que a Terra recebe durante o dia mantém a temperatura elevada mesmo durante a noite.

    Aumento das temperaturas

    Ocorre que, a partir do século 19, com a queima de florestas tropicais e a utilização de combustíveis fósseis em indústrias, usinas termelétricas, automóveis, aviões, etc. grandes quantidades de gás carbônico (CO2) têm sido lançadas na atmosfera. A emissão desenfreada desse e de outros gases acentua a ação do efeito estufa, engrossando a camada protetora a ponto de não permitir que a radiação solar, depois de refletida na Terra, volte para o espaço, o que bloqueia o calor.

    Como conseqüência direta desse processo, teremos a alteração do clima do planeta, com um aumento médio de, aproximadamente, 1ºC na temperatura da Terra. Em breve, as temperaturas médias poderão estar entre 1,4ºC e 5,8ºC mais altas, quando comparadas ao ano de 1990.

    Conseqüências

    O aquecimento poderá provocar o derretimento das calotas polares, resultando na elevação do nível dos mares, inundando cidades costeiras e afetando atividades como a agricultura e a pesca. Os países mais atingidos serão os mais pobres - justamente os que menos contribuem para o efeito estufa -, que não terão meios de contornar os prejuízos.

    O efeito estufa tem causado preocupações em boa parte da comunidade científica, e representantes dos governos da maioria dos países têm se reunido para discutir o problema, cuja solução exige diminuição no lançamento dos gases na atmosfera.

    Algumas conferências internacionais, para definir os meios de se concretizar essa diminuição, passaram a ser realizadas entre o final do século 20 e o início do século 21. Nelas foi discutida a elaboração de um texto definitivo para o Protocolo de Kyoto.

    Protocolo de Kyoto

    É um acordo internacional que foi estabelecido em 1997, em Kyoto, no Japão, e assinado por 84 países. Pelo documento, os países desenvolvidos se comprometeram a reduzir sua emissão de gases estufa e garantir um modelo de desenvolvimento limpo para os países em desenvolvimento.

    O documento prevê que essa redução deve ser cumprida entre 2008 e 2012 - os países desenvolvidos precisam diminuir suas emissões de gases estufa, principalmente o dióxido de carbono, em 5,2% (quando comparadas aos níveis medidos em 1990).

    A meta a ser cumprida não é a mesma para todas as nações: 8% para a União Européia (EU), 7% para os Estados Unidos (EUA) e 6% para o Japão. Países em desenvolvimento não têm meta.

    Além da redução das emissões de gases, o Protocolo de Kyoto estabelece outras medidas, como o estímulo à substituição do uso dos derivados de petróleo pelos da energia elétrica e do gás natural.

    Envelhecimento da população

    Número de idosos no Brasil chegará a 50 mi durante o século 21

    *Ronaldo Decicino
    Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação
    Foto: Antonio Cruz/ABr
    Participantes da 2ª Conferência Nacional dos Direitos da Pessoa Idosa, Brasília, março de 2009
    O envelhecimento das populações - ou seja, o crescimento mais elevado da população idosa em relação aos demais grupos etários - tornou-se um fenômeno mundial. No caso brasileiro, pode ser exemplificado pelo aumento da participação da população maior de 60 anos no total da população nacional, que passou de 4%, em 1940, para 8%, em 1996.

    Pode-se dizer que o Brasil está envelhecendo rapidamente, pois até a metade do século 21 a população de idosos será de quase 50 milhões. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que o Brasil chegou a uma taxa de fecundidade de 1,8 filho por mulher, enquanto a expectativa de vida passou de 41 anos, em 1960, para 72,7 anos, em 2007.

    As projeções do IBGE apontam ainda que, durante o século 21, a parcela dos brasileiros que têm mais de 65 anos aumentará dos atuais 12,4 milhões para 48,9 milhões, enquanto que o número de crianças cairá dos atuais 50,2 milhões para 28,3 milhões. Fora isso, a idade mediana do brasileiro, que era de 20 anos em 1980, chegará a 40 anos em 2030, devendo atingir 46 anos em 2050.

    Resultados da Pnad

    Segundo os resultados da última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) do IBGE, em números absolutos, as crianças e adolescentes, de até 14 anos, eram 46,9 milhões em 2008. Já a população de 60 anos ou mais somava 21 milhões. Em todo o país, o comportamento regional foi o mesmo: redução na população mais jovem e aumento do percentual de pessoas com idade mais avançada.

    A região Centro-Oeste foi a que apresentou a menor queda da população jovem, e a região Norte, a maior. O Sul e o Sudeste apresentaram as estruturas etárias mais envelhecidas. Nessas regiões, a população de 40 anos ou mais representam, respectivamente, 38,1% e 37,8% da população.

    De acordo com a pesquisa, os Estados das regiões Norte e Nordeste apresentaram os maiores percentuais de pessoas de até 4 anos: no Acre elas eram 11% da população, em Roraima 10,2% e no Amazonas 10,1%. No lado oposto, o Rio de Janeiro tinha 5,6% da população com até 4 anos, além de ser o Estado que concentrava o maior percentual de pessoas com 60 anos ou mais, 14,9%. O Rio Grande do Sul também registrou elevado percentual de pessoas com 60 anos ou mais, com 13,5%.

    Condições de vida

    No Brasil, até o início do século 20 a velhice foi tratada como uma questão privada, de responsabilidade da família ou de entidades filantrópicas e religiosas. A Constituição de 1934 foi pioneira em reconhecer a especificidade da pessoa idosa, sob a forma de direitos trabalhistas e previdenciários.

    O trabalhador rural, por sua vez, não teve reconhecido qualquer direito à aposentadoria até a Constituição de 1988, primeira em estabelecer um sistema de proteção integral ao idoso, garantindo, inclusive, o pagamento de um salário mínimo a qualquer brasileiro com mais de 65 anos que não tenha outra fonte de renda.

    Entre 1990 e 2009, o idoso brasileiro teve sua expectativa de sobrevida aumentada, seu grau de deficiência física ou mental foi reduzido, passou a chefiar mais suas famílias e a viver menos na casa de parentes. Também passou a receber um rendimento médio mais elevado, o que levou à redução do seu grau de pobreza e indigência.

    Contudo, o país ainda enfrenta vários obstáculos que dificultam o envelhecimento saudável de sua população. A grande maioria dos idosos não recebe uma aposentadoria digna (em geral, os benefícios não chegam a dois salários mínimos). O Estado frustra expectativas de direitos e muitas vezes se omite em garantir esses direitos. Exemplo disso são os trâmites para aposentadoria, pensão e outros benefícios devidos, que demoram a ser concedidos ou corrigidos.

    Além disso, grande parte dos idosos brasileiros enfrenta violência urbana e familiar, sofre com transporte público, não tem acesso à educação, não domina novas tecnologias e não participa na produção e difusão de bens culturais.
     

    Energia eólica

    Força dos ventos pode reduzir efeito estufa

    Ronaldo Decicino*
    Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação
    Reprodução
    Do total da energia elétrica produzida no Brasil só 0,24% é derivada da energia eólica
    A energia eólica origina-se dos ventos. O termo "eólico" vem do latim aeolicus, pertencente ou relativo a Éolo, deus dos ventos na mitologia grega. Esse tipo de energia tem sido utilizado, desde a Antiguidade, para mover os barcos impulsionados por velas ou fazer funcionar a engrenagem dos moinhos, ao mover suas pás. No caso dos moinhos, a energia eólica era transformada em energia mecânica, usada na moagem de grãos ou para bombear água.

    A energia eólica é renovável, limpa, existe em todo o mundo e, se utilizada para substituir fontes de combustíveis fósseis, auxilia na redução do efeito estufa e pode suprir uma parcela significativa das necessidades energéticas mundiais.

    De acordo com o Conselho Global de Energia Eólica - Global Wind Energy Council (GWEC) -, organismo internacional que reúne entidades e empresas relacionadas à produção desse tipo de energia, a Alemanha é o maior produtor de eletricidade por meio dos ventos, com 22,35 GW, o que representa 23,7% do total mundial, seguida dos Estados Unidos, com 16,82 GW, e Espanha, com 15,15 GW. Há também a Índia, com 7,85 GW; China, com 5,9 GW; e Dinamarca, com 3,13 GW.

    O relatório "Tendências Globais de Investimentos em Energias Sustentáveis", lançado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), informa que dos US$ 148 bilhões de investimentos globais na produção de energia renovável realizados em 2007, a maior parcela dos recursos - US$ 50,2 bilhões - foi direcionada para a geração de energia eólica. Esse montante foi maior do que o destinado à produção de outros tipos de energia, incluindo as centrais nucleares.

    De 2002 a 2008, os investimentos para a produção de energia eólica registraram crescimento médio anual de 22,3%. A partir de novos investimentos, calcula-se que a produção mundial chegue a 287 GW em 2012. E deverá passar de 1% de toda a energia elétrica consumida no planeta, em 2007, para 2,7% em 2012.

    Brasil utiliza pouco seu potencial eólico

    No caso do Brasil, segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica, a maior parte da energia elétrica é gerada por fontes renováveis: 70% por hidrelétrica, 4% por biomassa e 0,2% por ventos. Dos 101,6 GW da energia elétrica produzida no país, as usinas eólicas contribuem com cerca de 0,247 GW, ou 0,24% do total.

    No entanto, uma das grandes vantagens da geração de eletricidade por meio dos ventos é a de que ela pode servir como fonte complementar à modalidade hidrelétrica nas regiões atingidas pelas secas. No Nordeste, por exemplo, os períodos de seca, no segundo semestre, são exatamente aqueles em que os ventos são mais favoráveis.

    Vale lembrar também que a energia eólica não é vulnerável a pressões políticas e econômicas, como o gás natural e o petróleo.

    Atualmente, existem no Brasil seis usinas em funcionamento: três localizam-se no Rio Grande do Sul - uma delas, a de Osório, faz parte do maior parque eólico do Brasil, com capacidade para gerar 0,15 GW -, uma em Santa Catarina e outras duas no Rio Grande Norte e na Paraíba, na costa nordestina: a região com maior potencial para geração de eletricidade pelo vento.
     

    Energia nuclear

    Como funciona, pós e contras

    Luiz Carlos Parejo*
    Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação
    A fissão nuclear, isto é, a divisão do átomo de metais como o urânio e o plutônio, aconteceu pela primeira vez por volta de 1938.

    Embora utilizada inicialmente para fins militares, depois das experiências catastróficas de Hiroshima e Nagasaki, a energia nuclear passou a ser utilizada, principalmente, para fins pacíficos.

    Sua principal utilização é a produção de energia elétrica, através de usinas termonucleares. Essas usinas funcionam a partir da fissão (separação) nuclear, controlada dentro dos reatores. A fissão gera calor que aquece a água e a transforma em vapor. Esse vapor, em alta pressão, gira a turbina, que, por sua vez, aciona o gerador criando eletricidade, como se vê na figura abaixo:

    <>
    Reprodução


    O calor gerado pela fissão nuclear é bastante grande, como exemplo podemos citar que a energia gerada por 1 quilograma de urânio numa usina termonuclear, é a mesma produzida por 150 toneladas de carvão mineral numa usina termoelétrica. Esse exemplo mostra de forma clara a eficiência dessa matriz energética sobre outras matrizes como o carvão mineral, o gás natural e o petróleo.

    O uso intensivo da energia nuclear é encontrado principalmente em países desenvolvidos (EUA, França, Japão, Alemanha e Reino Unido), pois é uma tecnologia bastante cara. Atualmente, países como China, Taiwan, Índia e Irã têm investido em usinas termonucleares.

    Vantagens e riscos da energia nuclear

    A escolha da produção de energia elétrica por termonucleares ocorre em países que necessitam de grande quantidade de energia e muitas vezes não possuem abundância de outras matrizes energética (petróleo, carvão, potencial hidráulico).

    Os norte-americanos seguidos da França e do Japão lideram o ranking de países produtores de energia nuclear.

    Apesar de todas as vantagens existentes, a utilização da energia nuclear encontra bastante resistência, principalmente, de grupos ecológicos que discutem o problema do lixo nuclear (o material utilizado no reator que não serve mais para gerar energia, mas continua radioativo), que pode contaminar o solo, o ar e as águas, portanto, é um problema. Atualmente, a maior parte do lixo atômico é depositado no fundo do mar.

    Outro perigo existente é o escape de radiação de um reator nuclear em caso de defeito ou explosão o que pode causar uma contaminação radioativa podendo levar a morte seres humanos e animais além de contaminar o solo, as plantas e espalhar-se rapidamente através do vento em forma de nuvens radioativas, afetando áreas enormes e seus efeitos perdurando por dezenas de anos.

    A energia nuclear no Brasil

    O Brasil possui um programa de energia nuclear que começou em 1967, (PNB) - Programa Nuclear Brasileiro; a 1ª usina termonuclear do Brasil, Angra 1 foi inaugurada em 1985, é equipada com um reator norte-americano, fabricado pela Westinghouse e durante os primeiros cinco anos de funcionamento sofreu 25 paralisações devido a defeito no reator.

    Esse problema levou governo brasileiro a fazer uma nova parceria, desta vez com uma empresa alemã, responsável pelas usinas de Angra 2 em operação desde de 2000 e Angra 3.

    Atualmente, as usinas Angra 1 e 2 são gerenciadas pela Eletronuclear, subsidiária da Eletrobrás, e juntas produziram em 2001, 14,4 mil MWh, o suficiente para abastecer o Rio de Janeiro ou 3% da energia elétrica produzida no país.

    Mais usinas

    O governo, através da Eletrobrás, estuda a viabilidade da instalação de outras usinas termonucleares no país, muito embora haja uma pressão maior em direção à produção de energia elétrica de matrizes renováveis e limpas (eólica, solar e biomassa).

    O país possui a sexta maior reserva mundial conhecida de urânio. Hoje todo o urânio prospectado no Brasil vem da jazida de Caetité na Bahia. Essa reserva e mais a tecnologia 100% nacional de enriquecimento de urânio dará ao país num futuro próximo 2007-2008 autonomia para a produção do combustível nuclear e aumentará a produção de radioisótopos para os setores industrial, médico e de pesquisa.

    Vale lembrar, ainda, que o Brasil participa do tratado de não proliferação de armas nucleares e possui dispositivos constitucionais que resguardam a não fabricação de artefatos nucleares e sua circulação pelo território nacional.

    20 anos de Chernobyl

    Em 26 de abril de 1986, ocorreu em Chernobyl, cidade a 120 Km de Kiev, capital da Ucrânia, o maior acidente nuclear da história.

    O reator número 4 da usina explodiu causando um vazamento de radiação que causou a morte imediata de 32 pessoas, segundo fontes oficiais. Contudo milhares de pessoas foram afetadas e morreram ou sofrem com os efeitos cumulativos da radiação, segundo dados da OMS nesses 20 anos 9 mil pessoas morreram com doenças causadas pela radiação.

    Na época do acidente a nuvem de radiação atingiu a Ucrânia, a Rússia e outras repúblicas soviéticas, a Europa Oriental, Setentrional e Central, que tiveram seus animais, pastos e plantações contaminadas.

    Autoritarismo e segredo

    Por ocasião o acidente a região era comandada pela ex-URSS que era socialista, um regime fechado, e somente três dias após o acidente ter ocorrido é que os demais países foram informados.

    Esse acidente levou a uma reformulação do sistema termonuclear, que acabou gerando novas tecnologias e métodos mais rígidos de controle das usinas e do processo de obtenção da energia elétrica, além do aumento da segurança contra falhas humanas e vedação de reatores em caso de acidentes.

    Ao lembrar os 20 anos de Chernobyl muitas organizações internacionais de direitos humanos ressaltam que a população atingida na área não recebe qualquer ajuda governamental ou indenizações pelos problemas e danos sofridos pelo acidente.
     

    Escassez de água

    Quais as áreas mais atingidas?

    Ronaldo Decicino*
    Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação
    Os mananciais do planeta estão secando rapidamente, o que vai se somar ao crescimento populacional, à poluição e ao aquecimento global, resultando na diminuição da quantidade de água disponível para cada pessoa no mundo. A quantidade per capita no mundo vem caindo desde 1970.

    Segundo alerta relatório das Nações Unidas, a escassez da água vai afetar diretamente a qualidade de vida. Atualmente já são 2 bilhões de pessoas enfrentando a falta de água, a previsão é que em 2025 este número dobre. Em cem anos o consumo de água cresceu 6 vezes, taxa duas vezes maior que o crescimento demográfico. O uso intensivo na agricultura foi a principal causa do aumento.

    <> <>
    Agência Fapesp
    Escassez de água e motivos


    A metade dos 12.500 km3 de água doce disponíveis no planeta já está sendo utilizada e, nos próximos 20 anos, é esperado que a média mundial de água disponível por habitante diminua um terço, fazendo com que duas em cada três pessoas tenham que viver numa situação crítica de escassez de água. Infelizmente, quase todos os 3 milhões de habitantes que devem ser adicionados à população mundial até 2050 nascerão em países que já sofrem com a escassez de água. Ou seja, não terão acesso a água de qualidade.

    As áreas mais atingidas serão a África, a Ásia Central e o Oriente Médio, local onde especialistas acreditam que eventuais conflitos, se vierem a ocorrer no neste século, serão causados cada vez mais por causa da água e cada vez menos por causa do petróleo.
     

    Fusos horários

    Entenda como se determina a hora em cada país

    Ângelo Tiago de Miranda*
    Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação
    Divulgação/Consulado Britânico
    O Big Ben marca o horário de Greenwich ou a hora universal
    Para entender o que são fusos horários é importante, antes, conhecer e compreender as coordenadas geográficas, uma rede de linhas imaginárias denominadas paralelos e meridianos, traçadas sobre o globo - e cuja finalidade é permitir a localização de qualquer ponto na superfície terrestre.

    O paralelo máximo é a linha do Equador, que divide a Terra em duas porções iguais: o hemisfério norte e o hemisfério sul. Sobre cada um desses hemisférios podemos traçar infinitas linhas paralelas ao Equador. Essas linhas são identificadas por sua distância em relação ao Equador, medida em graus. Essa distância é o que chamamos de latitude, que pode variar de 0o a 90o, tanto para norte quanto para sul.

    Já os meridianos são todas as semicircunferências traçadas de forma a ligar os dois pólos da Terra. Todos os meridianos têm o mesmo tamanho e qualquer um deles pode ser utilizado para se dividir o planeta em duas porções iguais: hemisfério ocidental (a oeste) e hemisfério oriental (a leste). Contudo, como meridiano de referência (0o), convencionou-se adotar, internacionalmente, o que passa pelo Observatório Astronômico de Greenwich, em Londres (Inglaterra).

    Assim, os demais meridianos podem ser identificados por sua distância, medida também em graus, em relação ao meridiano de Greenwich. Essa distância é o que chamamos de longitude e varia de 0o a 180o, tanto para leste quanto para oeste.

    Como o meridiano de Greenwich é considerado o referencial das longitudes, ele também passou a ser considerado o da determinação de um horário-base no planeta.

    Para a localização de um ponto qualquer na superfície do planeta é preciso, então, cruzar um paralelo com um meridiano, ou seja, é necessário conhecermos a sua latitude e a sua longitude.

    Fusos horários e suas implicações

    Devido ao seu movimento de rotação (movimento da Terra ao redor de um eixo imaginário, que a atravessa de um pólo a outro, no sentido do Oeste para o Leste), a Terra apresenta dias e noites. Como resultado, diversos pontos da superfície terrestre apresentam diferenças de horários.

    A determinação da hora parte do princípio de que a Terra é uma circunferência perfeita, medindo 360o, e de que a rotação terrestre dura 24 horas. Com isso, conclui-se que esse é o tempo necessário para que todos os meridianos que "cruzam" o planeta passem, num determinado momento, frente ao Sol.

    Dividindo-se os 360 graus da esfera terrestre pelas 24 horas de duração do movimento de rotação, resultam 15 graus. Portanto, a cada 15 graus que a Terra gira, passa-se uma hora - e cada uma dessas 24 faixas recebe o nome de fuso horário.

    No interior dessas faixas, por convenção, passou a vigorar um mesmo horário. Essa padronização do tempo ocorreu no século 19, num momento em que o Reino Unido era a principal potência econômica e militar do planeta. Por isso, o meridiano que passava no observatório de Greenwich, então nos arredores de Londres (hoje, dentro da cidade), foi considerado o meridiano zero.

    A hora de Greenwich tornou-se a hora universal, no sentido de que é em relação a ela que se determinam os horários em outros pontos do globo terrestre. A leste de Greenwich, as horas aumentam a cada faixa de 15o, variando entre 0 e 12. Ao contrário, a oeste de Greenwich, as horas diminuem, em idêntica variação. O horário de Greenwich também é chamado de GMT, ou seja, Greenwich Mean Time (mean significando "média").

    É importante entender que essa padronização facilita as relações internacionais. No interior de um mesmo país, entretanto, esses limites não são tão rígidos. Os países podem estipular seus fusos horários a partir de suas divisões político-administrativas, que podem abranger regiões maiores ou menores do que as faixas de 15o.

    Mudanças nos fusos horários brasileiros

    No caso do Brasil, que é um país de grande extensão territorial leste-oeste, existem três fusos horários, todos eles atrasados em relação a Greenwich. O segundo fuso horário brasileiro abrange mais de 50% do território nacional, inclusive a capital federal. Ele determina, então, o horário oficial do país, o horário de Brasília.

    Os atuais três fusos horários passaram a vigorar a partir da zero hora de 24 de junho de 2008, determinada pela Lei nº 11.662, sancionada pelo governo federal em 24 de abril de 2008.

    Essa lei reduziu de quatro para três o número de fusos horários usados no Brasil. A mudança atingiu municípios nos estados do Acre, Amazonas e Pará. Desde então, os 22 municípios do Acre ficaram com diferença de uma hora em relação a Brasília - antes eram duas horas a menos. Municípios da parte oeste do Amazonas, na divisa com o Acre, sofreram a mesma mudança, o que igualou o fuso dos Estados do Acre e do Amazonas.

    A mudança na lei também fez com que o Pará, que antes tinha dois fusos horários, passasse a ter apenas um. Os relógios da parte oeste do Estado foram adiantados em mais uma hora, fazendo com que todo o Pará ficasse com o mesmo horário de Brasília. Observe abaixo, nos mapas, as mudanças ocorridas:
    <>
    Reprodução

    Vale lembrar que o antigo sistema de quatro fusos horários, estabelecido para todo o território nacional, foi instituído por meio da Lei nº 2.784, de 18 de junho de 1913, assinada pelo então presidente da República, Hermes da Fonseca, vigorando no território brasileiro por longos anos.

    Tudo isso demonstra a arbitrariedade da nossa forma de medir o tempo, ou seja, o fato de essas medidas serem produto de uma convenção social. Reforça ainda mais essa verdade o chamado horário de verão, medida que se adota em alguns países, com o intuito de economizar energia elétrica.

    Pelo horário de verão, adianta-se o relógio em uma hora para se aproveitar um período de tempo em que amanhece mais cedo e anoitece mais tarde, potencializando-se a utilização da luz natural. No Brasil, o horário de verão é adotado desde 1985, entre outubro e fevereiro de cada ano.
     

    Fontes de energia (1)

    Recursos energéticos disponíveis no Brasil

    Cláudio Mendonça*
    Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação
    A energia movimenta a indústria e os meios de transporte, viabiliza as atividades comerciais e de serviços e alimenta uma parafernália de equipamentos domésticos e pessoais, como os telefones celulares, os relógios à bateria, equipamentos de som, computadores e eletrodomésticos. É transportada por gasodutos, linhas de transmissão, rodovias, ferrovias e navios. No entanto, a energia encontrada na natureza precisa ser transformada nas refinarias de petróleo, nas usinas hidrelétricas, nas termelétricas, nas termonucleares; nas carvoarias que transformam a lenha em carvão vegetal; etc.

    Em uma época em que o aquecimento global e a poluição ambiental são fatos incontestáveis, a necessidade de alteração da matriz energética tornou-se prioritária. Há consenso de que a solução desta questão ambiental e o controle sobre o risco de escassez de energia num futuro não distante estão no desenvolvimento e na maior utilização de fontes não convencionais.

    Fontes convencionais ou alternativas são aquelas que ainda são utilizadas em pequena quantidade e que estão em fase de desenvolvimento para a obtenção de maior eficácia, como é o caso da energia solar, da biomassa, dos ventos, do hidrogênio, entre outras.

    A matriz energética mundial

    A participação de energia renovável no fornecimento mundial em 2004 era de pouco mais de 10% e as renováveis limpas como a solar, eólica, geotermal eram de apenas 2% do total mundial. Em contrapartida os combustíveis fósseis, como o petróleo, o carvão mineral e o gás natural contribuíram, neste mesmo ano, com 80%. Justamente as fontes responsáveis pela maior parcela da poluição ambiental e do efeito estufa, em particular.

    Os combustíveis fósseis são encontrados em bacias sedimentares e formados pela decomposição de matéria orgânica. Esse processo leva milhões de anos e uma vez esgotadas essas formações fósseis não serão repostas na escala da vida humana. É por essa razão que a matriz energética atual não é sustentável. A substituição destas energias sujas por fontes alternativas é vista como meta necessária para tornar o mudo viável no século 21.

    Pequeno histórico

    Há pouco mais de dois séculos, as principais formas de energia eram aquelas cuja disponibilidade na natureza era de fácil acesso: o vento e a água utilizados para produzir energia mecânica e a queima de madeira para a geração de calor. Com Revolução Industrial, a invenção da máquina à vapor e do tear mecânico para a a produção têxtil, o carvão mineral passou à principal fonte de energia dominante no processo fabril. Foi o carvão, também, que colocou as locomotivas em movimento. A humanidade estava pela primeira vez na história substituindo as formas de energia renováveis por formas de energia mais eficientes, porém não renováveis e poluentes.

    Já no final do século 19 a energia hidrelétrica e o petróleo passaram a complementar a energia retirada do carvão. O petróleo em pouco tempo transformou-se na principal forma de energia utilizada no mundo, até os dias atuais. Foi nesta época que ocorreu a invenção dos motores de combustão interna a gasolina e outros derivados de petróleo e a invenção da lâmpada elétrica. O petróleo passou a ser essencial à economia mundial, fator gerador de conflitos entre países e principal agente de poluição atmosférica.

    Na segunda metade do século 20, em diversos países do mundo, a energia nuclear para produção de energia elétrica passou a ser utilizada em grande escala, principalmente na Europa e nos Estados Unidos. Hoje se fala muito das possibilidades novas que podem ser criadas pela utilização do hidrogênio, uma energia limpa que pode ser retirada da água, mas muita pesquisa ainda deverá ocorrer até que se torne uma opção comercialmente viável. O hidrogênio teria a capacidade de substituir os derivados de petróleo para os veículos automotivos. Hoje quase todas as indústrias automotivas têm protótipos de veículo movido a hidrogênio.

    Perspectiva e vantagem brasileiras

    O Brasil não é auto-suficiente em energia, mas produz cerca de 90% do total que consome, importando o restante. O país é um dos poucos do mundo que apresenta possibilidade múltipla de ampliar as suas alternativas energéticas, devido à abundância dos seus recursos naturais e de sua extensão territorial. Em 2004, as fontes renováveis representavam 44% da oferta de energia gerada no país enquanto que no mundo estas fontes não ultrapassavam 14%.

    <>
    Página 3


    A crise do petróleo de 1973 incentivou mudanças significativas no tipo de energia gerada no país. Em 1975, foi implantado o Proálcool com objetivo substituir parte da gasolina nos veículos de passageiros e como aditivo à gasolina. No entanto com a queda do preço do petróleo, na década de 1990, o projeto estava praticamente encerrado. No início deste século surgiu um Novo Proálcool com o objetivo de estimular a produção e o consumo do combustível.

    A elevação do preço do barril do petróleo, a consciência sobre a necessidade de maior diversificação das fontes energéticas, a invenção do motor bicombustível foram os fatores que possibilitaram a reativação do projeto. A homologação do Protocolo de Kioto, por sua vez, elevou a demanda de álcool no mercado internacional e as exportações brasileiras destinadas aos países europeus e ao Japão que têm metas de redução de gases estufa.

    Outra perspectiva otimista é o biodiesel, fonte menos poluente e renovável de energia. O biodiesel já é um aditivo utilizado para motores de combustão, derivado do dendê, da soja, da palma, da mamona e de uma infinidade de vegetais oleaginosos. Pode ser usado puro ou misturado com o diesel, em proporções diversas e sem a necessidade de alteração de equipamentos no motor.

    O biodiesel puro reduz em até 68% as emissões de gás carbônico, em 90% as de fumaça e elimina totalmente as emissões de óxido de enxofre. Por ser biodegradável, atóxico e praticamente livre de enxofre é considerado um combustível ecológico. Apresenta ainda outras vantagens: o produtor rural pode produzir o seu próprio combustível, misturá-lo em qualquer proporção com o óleo diesel ou usa-lo totalmente puro nos motores de combustão, sem necessidade de ajuste.

    A tropicalidade e a possibilidade de exploração da força dos ventos em diversos pontos do território complementam a pluralidade de alternativas existentes para o Brasil.

    Geologia

    Intemperismo e tipos de rochas

    Ronaldo Decicino*
    Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação
    Rochas são materiais que fazem parte essencial da crosta sólida da Terra - e são constituídas por agregados de um ou mais minerais. Nesse conceito de rocha incluímos areias, cascalhos, cinzas vulcânicas, granitos, arenitos, etc.

    Utilizamos as rochas, juntamente com os fósseis, para decifrar os fenômenos geológicos atuais e do passado. As rochas que formam os continentes e o fundo dos oceanos registram os fenômenos de transformação da superfície e do interior da crosta terrestre.

    Todas as rochas obedecem a um ciclo, um processo contínuo pelo qual as rochas antigas são transformadas em novas. Assim, o ciclo das rochas representa as diversas possibilidades de transformação de um tipo de rocha em outro.

    Intemperismo

    Uma vez expostas à atmosfera e à biosfera, as rochas passam a sofrer a ação do intemperismo, o conjunto de processos mecânicos, químicos e biológicos que ocasionam a desintegração e a decomposição das rochas. Elas passam a sofrer reações de oxidação e hidratação, além de ataques por substâncias orgânicas e variações diárias ou sazonais de temperatura, etc.

    O intemperismo faz com que as rochas percam sua coesão. Elas são erodidas, depois transportadas e, finalmente, depositadas em outros locais, onde passam a formar e constituir as rochas sedimentares. Tal processo de formação de rochas sedimentares pode atuar sobre qualquer tipo de rocha (ígnea, metamórfica ou sedimentar) exposta na superfície terrestre.

    O ciclo das rochas existe desde os primórdios da história geológica da Terra. Isso faz com que a crosta de nosso planeta esteja em constante transformação.

    Tipos de rochas

    As rochas podem ser divididas em três grupos principais: ígneas (ou magmáticas), sedimentares e metamórficas. Essas rochas, que aparentemente não mostram relações entre si, apresentam-se, no entanto, intimamente relacionadas:

  • Rochas ígneas (do latim ignis, fogo): também conhecidas como rochas magmáticas, originam-se a partir do resfriamento do magma, ou seja, da solidificação (cristalização) do magma. As rochas ígneas podem conter jazidas de vários metais, como ouro, platina, cobre, estanho, etc., e trazem à superfície do planeta importantes informações sobre as regiões mais profundas da crosta terrestre.

    Há dois tipos principais de rochas ígneas: intrusivas (ou plutônicas) e extrusivas (ou vulcânicas). As rochas intrusivas formam-se no interior da Terra, quando o magma é empurrado para dentro de fendas ou entre camadas de rocha. Exemplos: granito, feldspato, turmalina, sienito, diorito, gabro, peridotito, basalto, etc.

    As rochas extrusivas formam-se na superfície da Terra, a partir da lava que, ao ser expelida, esfria com rapidez, produzindo rochas com granulação fina. Exemplos: riolito, basalto, pedra-pomes, andesito, obsidiana.

    Nesses dois tipos de rochas ígneas, a composição das rochas não apresenta uma relação de identidade absoluta com o material magmático que lhes deu origem, uma vez que este, ao atravessar a crosta, sofre alterações estruturais, principalmente por causa das diferenças de temperatura e pressão existentes entre o manto e a crosta terrestre.

  • Rochas sedimentares: são produto de uma cadeia de processos que ocorrem na superfície terrestre e se iniciam pelo intemperismo.

    As rochas que sofrem o intemperismo perdem sua coesão e passam a ser erodidas e transportadas por diferentes agentes (água, gelo, vento, gravidade) até sua sedimentação em depressões da crosta terrestre, denominadas bacias sedimentares.

    Segundo sua origem, as rochas sedimentares podem se classificadas em detríticas (ou clásticas) e químicas (ou não clásticas):

    - Detríticas - resultam da agregação de fragmentos de minerais ou de outras rochas, dentre as quais podemos citar os arenitos, os sienitos e o diabásio.

    - Químicas - resultam da agregação de sedimentos provenientes principalmente da dissolução química de outras rochas. Segundo sua composição, as rochas químicas podem ser classificadas como inorgânicas - formadas pela precipitação de sais a partir de soluções aquosas saturadas (como, por exemplo, o evaporito e o laterito) - ou orgânicas, como o caso dos calcários, formados de sedimentos provenientes da decomposição de organismos em ambientes marinhos (conchas e corais).

    As rochas sedimentares fornecem importantes informações sobre as variações ambientais ao longo do tempo geológico. Os fósseis preservados nessas rochas são a chave para a compreensão da origem e da evolução humanas. Exemplos de rochas sedimentares: arenito, argilito, calcário, siltito, tempestito, conglomerado, turbidito,

  • Rochas metamórficas: assim como as rochas ígneas, as metamórficas podem ser levadas, por meio de processos geológicos, a condições diferentes daquelas nas quais se formaram. Ou seja, elas se originam das transformações na composição e na estrutura de qualquer tipo de rocha.

    Essas transformações ocorrem principalmente devido à ação de elevadas temperaturas e pressões sobre as rochas originais. O estudo das rochas metamórficas permite identificar grandes eventos geotectônicos ocorridos no passado, fundamentais para o entendimento da atual configuração dos continentes.

    As cadeias de montanhas - como os Andes, os Alpes e o Himalaia - são grandes deformações da crosta terrestre, resultado de colisões de placas tectônicas. As elevadas pressões e temperaturas existentes no interior das cadeias de montanhas durante sua formação são o principal mecanismo criador de rochas metamórficas. Exemplos de rochas metamórficas: ardósia, gnaisse, xisto, mármore, itabirito, etc.

    Globalização

    Integração das economias mundiais

    Cláudio Mendonça*
    Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação
    Divulgação/Universidade de Chicago
    Hayek, o teeórico do neoliberalismo
    Desde a sua origem, o capitalismo integrou o mundo numa única economia, com as grandes navegações, a descoberta de novas rotas e terras e o colonialismo. No entanto, utiliza-se o conceito de globalização para indicar o processo relativamente recente da internacionalização das relações econômicas capitalistas, apoiado em novas tecnologias de transporte e telecomunicações e na ampliação da capacidade produtiva.

    Após a Segunda Guerra Mundial, essas tecnologias eliminaram os obstáculos técnicos para uma maior integração da economia: o avanço das telecomunicações com uso da tecnologia de satélites, a popularização da informática, a maior eficiência dos meios de transportes internacionais e a expansão sem precedentes das empresas multinacionais conectaram o mundo todo.

    A Internet possibilitou a formação não só de redes de comunicação instantânea, em tempo real, como redes de produção, de serviços (comércio e entretenimento) e de investimentos com a possibilidade de realização de atividades simultâneas entre os pontos mais distantes do planeta.

    Há pouco mais de uma década o processo de globalização teve maior impacto no Brasil. No início dos anos de 1990, o país passou a adotar políticas econômicas neoliberais, abrindo seu mercado interno, reduzindo barreiras protecionistas, criando maiores facilidades para a entrada de mercadorias e de investimentos externos, como aplicações financeiras e investimentos produtivos. A idéia era contar com o capital estrangeiro para retomar o crescimento econômico.

  • GPS

    Sistema de Posicionamento Global tem diferentes utilidades

    *Ronaldo Decicino
    Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação
    Divulgação
    Diversos modelos de aparelhos de GPS para uso pessoal disponíveis no mercado

    O GPS, ou Global Positioning System (Sistema de Posicionamento Global), foi criado pelo Departamento de Defesa dos Estados Unidos e tem como função básica identificar a localização de um receptor, na superfície terrestre, que capte sinais emitidos por satélites. Ou seja, trata-se de um sistema de posicionamento geográfico que nos dá as coordenadas de determinado lugar na Terra, desde que tenhamos um receptor de sinais de GPS.

    O GPS é considerado, atualmente, a mais moderna e precisa forma de determinação da posição de um ponto na superfície terrestre. O receptor capta os sinais de quatro satélites para determinar as suas próprias coordenadas - e depois calcula a distância entre os quatro satélites pelo intervalo de tempo entre o instante local e o instante em que os sinais foram enviados.

    Decodificando as localizações dos satélites a partir dos sinais de ondas específicas e de uma base de dados interna, levando em conta a velocidade de propagação do sinal, o receptor pode situar-se na intersecção desses dados, permitindo identificar exatamente onde o aparelho se encontra na Terra.

    Tal tecnologia foi desenvolvida, inicialmente, para fins bélicos, durante a Guerra do Golfo (1990-1991). Foi com base no GPS que os Estados Unidos orientaram suas movimentações aéreas, seus bombardeios e lançamentos de mísseis.

    Esse sistema é mantido pelo Departamento de Defesa dos Estados Unidos e foi declarado totalmente operacional apenas em 1995. Conta com um total de 24 satélites e mais 4 sobressalentes, em seis planos orbitais, a uma altitude de 19.000 km. Esses satélites estão distribuídos de maneira que um receptor, posicionado em qualquer ponto da superfície terrestre, estará sempre em área de alcance de pelo menos dois dos satélites. Essa condição permite que a margem de erro do posicionamento seja inferior a 1 cm.

    Usos variados

    Atualmente, o uso do GPS está ao alcance dos diversos campos da atividade humana. O GPS é útil em praticamente todas as situações e profissões em que seja necessário obter uma localização precisa dos envolvidos, como trabalhos de exploração, expedições dentro de matas ou cavernas, além de ser importante para praticamente todos os veículos de voo ou navegação, permitindo aos tripulantes saberem exatamente onde se encontram, no céu ou no mar.

    Uma das aplicações mais exploradas para usuários comuns é a utilização do sistema em automóveis. Ele é oferecido com mapas das cidades e locais em que o motorista estiver trafegando, o que permite traçar percursos e rotas com facilidade, além de possibilitar uma visão geral da área que se está percorrendo. Até mesmo pessoas que se deslocam constantemente por áreas pouco povoadas fazem uso do GPS.

    A comunidade científica utiliza o GPS pelo seu relógio altamente preciso. Durante certas experiências científicas, pode-se registrar com precisão de microsegundos (0,000001 segundo) quando determinada amostra foi obtida. Naturalmente, a localização do ponto onde a amostra foi recolhida também pode ser importante.

    Agrimensores diminuem custos e obtêm levantamentos precisos mais rapidamente com o GPS. Guardas florestais, trabalhos de prospecção e exploração de recursos naturais, geólogos, arqueólogos, bombeiros, todos são beneficiados pela tecnologia do GPS, que também se torna cada vez mais popular entre ciclistas, balonistas, pescadores, ecoturistas e aventureiros que queiram apenas orientação durante as suas viagens.

    Com a popularização do GPS, um novo conceito surgiu: a agricultura de precisão. Uma máquina agrícola dotada de receptor GPS armazena dados relativos à produtividade em um dispositivo de memória que produz um mapa de produtividade da lavoura. As informações permitem, inclusive, otimizar a aplicação de fertilizantes.

    Haiti (2)

    Brasil comanda missão da ONU no país

    Luiz Carlos Parejo*
    Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação
    Divulgação/Exército Brasileiro
    O Brasil comanda as tropas da ONU que visam restabelecer a ordem no Haiti

    O Haiti está localizado na América Central insular (Grandes Antilhas), na parte oeste da ilha La Hispaniola. O país apresenta o pior IDH - Índice de Desenvolvmento Humano - das Américas e um dos piores do mundo (só está a frente de alguns países africanos). Possui uma população de quase 8,6 milhões de habitantes (projeção de 2006) com 96% formada por população negra ou mestiça (brancos e negros).

    A ocupação européia foi feita inicialmente pela Espanha. A partir de 1697, o território foi dominado pelos franceses, que implantaram a agricultura canavieira com a mão-de-obra escrava vinda da África. Embora tenha se tornado independente em 1804, o Haiti sofreu invasões da Espanha e dos EUA (1915 a 1934).

    Papa Doc e Baby Doc

    Em 1957, François Duvalier (chamado Papa Doc) foi eleito presidente do Haiti e criou a Milícia de Voluntários da Segurança, cujos membros, mais conhecidos como Tonton Macoutes ("bichos papões", no dialeto local), eliminaram a oposição. Iniciou-se, então, um regime ditatorial baseado no terror, inclusive com elementos do sobrenatural: o vodu passou a ser usado para amedrontar a população descontente e ameaçar a Igreja.

    Com a morte do Papa Doc, em 1971, seu filho Jean-Claude Duvalier (ou Baby Doc) assumiu o poder e continuou com os mesmos métodos de controle e repressão. O desgoverno ditatorial gerou aumento do desemprego e da pobreza. A insatisfação popular cresceu a ponto do Baby Doc ser forçado a abandonar o país em 1986.

    Uma junta governou o país até as eleições de 1990, vencidas pelo padre de esquerda Jean Bertrand Aristide que sofreu um golpe de Estado e se refugiou no Canadá. Muitos refugiados se dirigiram aos EUA e países vizinhos, o que levou o governo norte-americano de Bill Clinton e a ONU a reivindicarem o retorno de Aristide ao poder.

    A Era Aristide

    Ao retornar ao Haiti, Aristide dissolveu o exército haitiano e governou até 1995, quando elegeu o seu sucessor: René Prèval. Nas eleições de 2000, Aristide venceu novamente, com 92% dos votos, e o seu partido ganhou todas as cadeiras de deputados e senadores em disputa.

    Porém, em 2004 o Haiti possuía cerca de 70% da sua população desempregada, o mandato dos deputados e senadores se encerrou sem novas eleições e Aristide governava por decretos. A oposição ao seu governo aumentou e armou-se, começou uma luta armada e Aristide deixou o país (retirado pelos EUA, à força).

    Tropas da ONU

    No mesmo ano, a ONU enviou tropas com soldados do Chile, EUA, Canadá e França e instalou um governo provisório. O Conselho de Segurança da ONU instituiu a Operação Minustah (United Nations Stabilization Mission Haiti), para garantir a segurança e as condições estáveis de modo a restabelecer um processo político e constitucional no país. O comando das tropas foi confiado ao Brasil.

    A Operação Minustah visa ajudar o governo transitório, na reforma de sua polícia nacional e em programas de desarmamento de grupos paramilitares e bandidos. O Brasil enviou cerca de 1.200 soldados para o Haiti e assumiu o comando das tropas das ONU (cerca de 8.360 soldados de 40 países).

    O Brasil em ação

    Em 2006, o general brasileiro Urano Teixeira da Matta Bacellar se suicidou. O suicídio teria sido causado pela falta de perspectiva de solução dos conflitos internos no Haiti (pois eles deixaram de ser políticos e os problemas sociais ganharam maior importância): desemprego em torno de 80% da população, desestruturação social, aumento da violência e a falta de ajuda internacional.

    Para o Brasil, o comando das tropas da ONU é visto como uma forma de o país pleitear um assento no conselho de segurança da ONU, ganhar experiência na luta contra o crime em favelas do Rio de Janeiro (o exército realizou uma seqüência de incursões que desmontaram as gangues de Cité Soleil - favela localizada na capital, Porto Príncipe, a área mais violenta do Haiti) e melhorar os equipamentos militares de combate urbano (o que já ocorreu com o Cascavel e o Urutu).

    A saída das tropas deveria ter acontecido, inicialmente, em julho de 2007, mas o Conselho de Segurança da ONU aprovou sucessivas ampliações do mandato da missão brasileira. Em outubro de 2009, por exemplo, o mandato foi prorrogado até outubro de 2010. Nessa mesma reunião, o Conselho destacou os avanços alcançados pela missão, mas reforçou a necessidade de fortalecer a capacidade da polícia haitiana e de apoiar o processo político para a realização de eleições em 2010.

    Hidrografia

    As principais bacias hidrográficas do Brasil

    Claudio Mendonça*
    Especial para Página 3 Pedagogia & Comunicação
    Num mundo em que a escassez de água será problema cada vez mais grave, o Brasil é um país privilegiado, por concentrar cerca de 12% das águas do planeta. Apesar disso, o Brasil acumula vários problemas pelo mal aproveitamento e pela execução de grandes usinas hidrelétricas, pela ocupação dos mananciais e pela poluição. Os rios de grandes cidades e os que atravessam importantes áreas agrícolas recebem os dejetos orgânicos e químicos (agrotóxicos) sem tratamento prévio. Poluição e morte têm sido o destino de importantes rios e poucas ações foram colocadas em prática para reverter este processo.
    O Brasil possui, também, um dos mais elevados potenciais (capacidade) de geração de energia elétrica a partir da água. No entanto, metade deste potencial está situada na Amazônia distante dos grandes centros de consumo. As águas estão distribuídas irregularmente no território brasileiro e, próximo aos grandes centros econômicos e aglomerados populacionais, esse potencial está aproveitado praticamente em seu limite. Observe o quadro:
    REGIÕES
    DISPONIBILIDADE DE
    RECURSOS HÍDRICOS (%)
    POPULAÇÃO (%)
    Norte
    70%
    7,6%
    Centro-Oeste
    15%
    6,8%
    Sudeste
    6%
    42,7%
    Sul
    6%
    14,8%
    Nordeste
    3%
    28,1%
    Fonte: IBGE (censo 2000)
    ANA (Agência Nacional das Águas - 2004)
    Quatro bacias hidrográficas principais cobrem mais de 80% da superfície do território brasileiro: Amazônica, Tocantins, Platina (Paraná, Paraguai e Uruguai) e São Francisco.
    Clique no mapa abaixo para ter mais informações sobre cada uma dessas bacias
    .

     
     
     

    Hidrografia

    Oceanos, mares, rios, lagos, lagoas e lagunas

    Ronaldo Decicino*
    Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação
    Hidrografia é a ciência que estuda as águas existentes no planeta e suas propriedades físicas e químicas, como movimento, cor, temperatura, transparência, volume etc. Conhecer a hidrografia de uma região significa estudar o ciclo da água que provém da atmosfera ou do subsolo.

    Ao entrar em contato com a superfície, a água pode escolher três caminhos: escorrer, infiltrar-se no solo ou evaporar. O volume global de água no planeta é de aproximadamente 1,418 milhão de km3 e abrange oceanos, mares, rios, lagos, geleiras, água no subsolo, lagoas e água na atmosfera.

    A maior parte dessas águas está concentrada nos oceanos e mares, que ocupam 71% da área do globo. A soma de suas águas resulta em um volume de 1,380 milhão de km3, correspondentes a 97,3% de toda a água da Terra.

    As águas continentais representam 2,7% das águas do planeta. A água doce congelada (geleiras e calotas polares) corresponde a 77,2% das águas continentais; a água doce armazenada no subsolo - os lençóis freáticos e poços - corresponde a 22,4%; a água dos lagos e lagoas, 0,35%; a água da atmosfera, 0,04%, e a água dos rios, 0,01%.

    Oceanos

    Correspondem a uma vasta extensão de água salgada que cobre quase três quartos da superfície da Terra. Cada uma das divisões maiores do oceano constitui-se em áreas geográficas isoladas em regiões diferentes, sendo divididas pelos continentes e grandes arquipélagos em cinco grandes oceanos.

    Oceano Pacífico: é o maior da Terra, com 180 milhões de km2. Atlântico: é o segundo maior em superfície, com 82,4 milhões de km2. Índico: é o terceiro maior em extensão, com 74 milhões de km2. Glacial Ártico: com 13 milhões de km2, formado por mar e geleiras ao redor do Círculo Polar Ártico, seu descongelamento tem sido apressado pelo efeito estufa.

    O Oceano Glacial Antártico constitui um prolongamento dos oceanos Pacífico, Atlântico e Índico. Por essa razão, muitos cientistas, oceanógrafos e geógrafos não reconhecem a existência do Oceano Antártico, considerando-o apenas uma junção de partes dos outros oceanos. É o único que rodeia o globo completamente, com superfície de 20,3 milhões de km2.

    Cada um desses oceanos engloba diversos mares ou porções menores mais ou menos delimitadas por ilhas e por recortes do litoral.

    Existem razões para se pensar que, por muito tempo, houve um único oceano principal (Pantalassa) e um único e gigantesco bloco de terras emersas (o supercontinente Pangéia), que reunia América, África, Europa, Ásia e Oceania. Sua fragmentação iniciou-se na era Mesozóica, há cerca de 180 milhões de anos, dando origem aos atuais oceanos e continentes.

    Os oceanos são importante fonte de recursos para o homem. Contêm grandes reservas minerais, servem como fonte abundante de alimentos e são responsáveis pela interação entre terra, atmosfera e água, que molda o clima mundial. Principal fonte e repositório das águas pluviais, os oceanos ajudam a moderar as temperaturas do planeta. Também contribuem para a limpeza do ar - organismos como as algas absorvem dióxido de carbono e liberam oxigênio na atmosfera.

    Mares

    Partes de oceanos que são cercadas por ilhas ou terras são chamadas de "mar". Oceanos, apesar de poderem ser referidos como mares, são áreas extensas de água salgada, desobstruídos por continente, enquanto mar pode ser qualquer corpo de água salgada e geralmente se refere a um corpo de água salgada rodeado por terra.

    Os mares se diferem dos oceanos quanto à dimensão e localização geográfica. Enquanto os oceanos cobrem grandes extensões e envolvem todas as massas continentais, os mares são considerados como parte dos oceanos, ocupando áreas mais reduzidas e com menores profundidades.

    Um mar é uma extensão de água salgada conectada com um oceano. Além de apresentarem menores profundidades que os oceanos, os mares apresentam também uma maior variação de salinidade, temperatura e transparência das águas. Os cinco maiores mares são: Mar da China do Sul, Mar do Caribe, Mar Mediterrâneo, Mar Bering e Golfo do México.


    Rios

    As águas resultantes das precipitações atmosféricas, dos degelos e aquelas que brotam na forma de fontes contribuem para a formação dos rios. Um rio é um curso de água natural, mais ou menos caudaloso, que deságua em outro rio, no mar ou em um lago.

    Os rios são considerados o mais efetivo agente modificador da paisagem, dada a sua capacidade de erosão, transporte e deposição. Servem de canais naturais de drenagem a uma bacia hidrográfica, ou seja, uma massa de água interior que corre, na maior parte da sua extensão, à superfície terrestre. Mas os rios também podem correr no subsolo em uma parte do seu curso.

    No sentido geral, esses cursos naturais de água doce possuem canais definidos e fluxo permanente, também chamado de perene, cujas águas correm durante todo o ano. Os rios também podem ter fluxo sazonal (ou temporário), cujo regime d'água é intermitente - o leito fica seco em algumas épocas do ano.

    Existem vários termos para designar rios e podemos citar: arroio, braço, canal, córrego, desaguadouro, igarapé, regato, riacho, ribeira, ribeirão, paraná, vazante etc. São importantes para a atividade humana, como vias de transporte e fontes de energia hidroelétrica e de água potável. Também fornecem recursos alimentares através da pesca e de água para irrigação.

    Lagos

    São massas de águas confinadas, mais ou menos tranqüilas e profundas. Os lagos têm em geral origem natural e estão situados em depressões de rochas impermeáveis, produzidas por causas diversas e sem conexão com o mar. Essas águas podem ser provenientes da chuva, de uma nascente local, de cursos de água, como rios e geleiras, que deságüem nessa depressão.

    Geralmente a água dos lagos é doce, mas existem importantes lagos salgados. Geologicamente, a maior parte dos lagos da Terra é recente e, quanto a sua origem, os lagos podem ser formados por:

    - Influências tectônicas: águas acumuladas nas deformações da crosta terrestre; resultam na formação de lagos grandes e profundos.
    - Atividades vulcânicas: águas que ocupam antigas crateras ou barragens efetuadas pelo escoamento de lavas de vulcões extintos.
    - Influência fluvial: ao longo de cursos de água onde os rios apresentam meandros, é comum o aparecimento de lagos.
    - Atividades glaciárias: tem sua origem relacionada com a ação das geleiras continentais e de montanhas.
    - Influência litorânea: associada ao surgimento de cordões arenosos que vão fechando reentrâncias que acabam por separar e enclausurar massas de água salgada (residuais) do mar aberto.
    - Atividades mistas: resultante da combinação de diversos fatores capazes de represar certa quantidade de água.

    Lagoas

    Depressões de formas variadas, normalmente circulares, de profundidade pequena. As lagoas podem ser definidas como massas de água superficial de pequena extensão e profundidade, cercadas por terra.

    Existem, no entanto, lagoas maiores que muitos lagos. Como exemplo, podemos citar a lagoa dos Patos, no Rio Grande do Sul, com cerca de 270 km de comprimento por 50 km de largura média.

    Lagunas

    Do latim lacuna, cisterna, pântano. Caracterizam-se como um ambiente de águas paradas, separadas do mar por uma barreira. Recebem ao mesmo tempo águas doces dos rios e águas salgadas quando ocorre a ingressão das marés. Todas as lagunas têm uma ou mais entradas, ou seja, uma conexão com o mar.

    As águas de uma laguna podem variar entre doce, salobra (água de salinidade inferior à da água do mar) e salgada. Isso irá depender do tamanho das entradas e da quantidade de água doce trazida pelos rios. Raras espécies de animais ou vegetais, que suportam as alterações constantes das águas de uma laguna, vivem nesses locais.
     
     

    Latifúndio

    Brasil tem maiores índices de concentração de terra no mundo

    Jurema Aprile*
    Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação
    Folha Imagem/Paulo Amorim
    Trabalhadores rurais invadem terras improdutivas
    O Brasil é o segundo país do mundo em concentração de propriedade da terra. Grandes propriedades com pelo menos mil hectares são 45,1% do total de 250 milhões de hectares cultiváveis no território nacional, de acordo com o Censo Agropecuário 1996 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e da FAO (Organização Internacional das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação).

    Há propriedades que medem mais de um milhão de hectares de terra. Um hectare é uma medida que equivale a pouco mais que um campo de futebol.

    A quantidade de estabelecimentos agrícolas encolheu de 1985 a 1996. Cerca de 400 mil pequenos proprietários perderam suas terras e tiveram que deixar a agricultura, de 1994 a 1996. Mais de cinco milhões de pessoas deixaram seus postos de trabalho no campo - e a evasão rumo às cidades continuava, ainda em 2006.

    Estatuto da Terra

    No centro disso tudo está a reforma agrária que deveria resolver o acesso à terra para as 4,9 milhões de famílias pobres que as pesquisas indicam existir no meio rural.

    Desde o Estatuto da Terra, compilado pelo regime militar em 1964, o acesso à terra para quem nela vive e trabalha é um direito do trabalhador rural e promovê-lo é obrigação do Estado.

    Esse direito foi reafirmado pela Constituição Federal de 1988, segundo a qual a terra tem função social. O solo fértil e com condições de plantio ou criação de animais deve produzir e dar empregos, ou ser reserva ecológica.

    Conflitos sociais

    Essa obrigação tem sido cumprida de forma parcial. Isso levou ao aumento dos conflitos sociais no campo. Em 1979, formou-se o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Para defender os interesses dos grandes proprietários, surgiu, em 1985, a União Democrática Ruralista (UDR).

    Segundo pesquisa da Comissão Pastoral da Terra, nos 20 anos do regime militar foram assassinados 840 trabalhadores rurais, ou 42 por ano.

    No período de 1985 até 1997 morreram no campo 1.003 trabalhadores e lideranças (como advogados, sindicalistas, religiosos). Esse número é quase três vezes maior que o total de 381 mortos e desaparecidos na época da repressão aos oposicionistas do governo militar, de 1964 a 1984.

    Treze anos depois da volta ao sistema democrático, a CPT contava 33 chacinas, com mais de três mortos por conflito. As duas maiores foram em Corumbiara e Carajás, no governo de Fernando Henrique Cardoso, que teve 43 mortes de sem-terra por ano de 1994 a 1997. Apenas 56 casos de assassinato foram julgados, catorze mandantes indiciados e sete condenados, até 1998.

    No governo Lula, os dados da CPT apresentam 64 mortes por conflitos no campo em 2005, contra 31 em 2004.
     

    Metrópoles, megalópoles

    Classificações das cidades

    Da Página 3 Pedagogia & Comunicação
    As cidades podem ser classificadas quanto à origem. Nesses termos, encontram-se duas categorias: <> <>
    Folha Imagem
    Vista da região central da cidade de São Paulo

  • cidades espontâneas ou naturais: constituem a maioria das cidades do planeta e foram formadas, através dos tempos, em locais que apresentavam algum tipo de vantagem para seu primitivo grupo populacional.

    É o caso de cidades que se localizam às margens de mares e de rios, que proporcionam alimentação e facilidade de transporte, por exemplo. Mas é também o caso de cidades que surgiram em torno de castelos, nos entroncamentos de estradas ou em rotas comerciais, que ofereciam respectivamente garantia de segurança, facilidade de deslocamento ou oportunidade de negócios.

    Alguns exemplos: Londres (Reino Unido), Moscou (Rússia), Paris (França), Rio de Janeiro e São Paulo (Brasil).

  • cidades planejadas: aquelas que são intencionalmente criadas em locais previamente escolhidos, implantadas em períodos temporais relativamente breves, com finalidade de caráter geopolítico.

    Em geral, as cidades planejadas têm seu planejamento rapidamente atropelado pelo crescimento populacional, o que faz o traçado original sucumbir diante da espontaneidade com que a população se espalha pelo seu entorno ou por seu interior.

    O exemplo máximo que se poderia dar do fenômeno, em termos brasileiros, é Brasília, planejada para acolher 500 mil habitantes, mas já teve esse número multiplicado por quatro, de acordo com o censo de 2000.

    Outros exemplos: Camberra (Austrália), Islamabad (Paquistão), Belo Horizonte e Goiânia (Brasil).

    Função principal

    Este é um outro critério de classificação das cidades que leva em conta fatores de ordem política, econômica, histórica ou cultural. É essencial atentar para o adjetivo "principal", pois as cidades não apresentam uma função única, porém uma que predomina sobre as demais. Por sua função principal, podem-se distinguir as cidades a partir das seguintes categorias:

  • Político-administrativas: Washington (EUA), Berlim (Alemanha), Brasília (Brasil);

  • Industriais: Detroit (EUA), Manchester (Reino Unido), Volta Redonda (Brasil);

  • Portuárias: Roterdã (Holanda), Hamburgo (Alemanha), Santos (Brasil);

  • Religiosas: Jerusalém (Israel); Varanasi (Índia), Aparecida (Brasil);

  • Históricas: Atenas (Grécia), Florença (Itália), Ouro Preto (Brasil)

  • Tecnológicas: Boston (EUA), Bangalore (Índia), Campinas (Brasil)

  • Turísticas: Miami (EUA), Katmandu (Nepal), Salvador (Brasil)

    No entanto, é muito importante observar que são várias as cidades multifuncionais onde vários das funções acima mencionadas podem ser observadas simultaneamente e é impossível se dizer que uma predomina sobre a outra.

    Tome-se como exemplo o caso de Jerusalém, capital de Israel e, portanto, sua sede político-administrativa. Jerusalém é ainda, inquestionavelmente, uma cidade em que os aspectos religiosos, históricos e turísticos merecem destaque.

    Do mesmo modo, o Rio de Janeiro, no Brasil, que já foi a capital federal, continua sendo a sede político-administrativa do Estado do Rio de Janeiro, é um pólo turístico internacional, concentra indústrias e conserva sítios históricos de importância ímpar.

    Conurbação, metrópoles e megalópoles

    No estudo das cidades, deve-se levar em consideração dois fenômenos que permitem estabelecer outras possibilidades de classificação. Em primeiro lugar, deve-se saber que a expansão horizontal de um sítio urbano (a área efetivamente ocupada pela cidade) pode fazer com que ele se junte e misture a outro sítio urbano, de modo que seus limites geográficos mal podem ser distinguidos.

    A esse fenômeno dá-se o nome de conurbação e é ele quem gera as metrópoles, ou seja, a união de várias cidades que funcionam, na prática, como uma única cidade. Diversas capitais brasileiras já passaram pelo fenômeno e constituem regiões metropolitanas, embora a metrópole brasileira por excelência seja a Grande São Paulo, cujo núcleo é formado por São Paulo/Capital e o ABCD (Santo André, São Bernardo, São Caetano e Diadema), embora conte, em seu total, com 39 cidades.

    Nos países desenvolvidos, as regiões metropolitanas podem estar de tal forma interligadas e existir entre elas tamanha circulação de pessoas, serviços, mercadorias, capital e informações que se formam as megalópoles. Nos Estados Unidos, por exemplo, considera-se uma megalópole Bos-Wash, a região que se estende de Boston a Washington, incluindo grandes metrópoles como Nova York, Newark, Filadelfia e Baltimore.

    Redes urbanas

    Considerando-se que as cidades não estão isoladas, mas obrigatoriamente estabelecem relações com outras, pode-se porceder uma nova classificação e uma hierarquia entre diversos centros urbanos. Para isso, leva-se em conta, sobretudo, a importância e a influência econômica que uma cidade exerce em sua relação com as outras.

    Assim, pode-se falar em metrópoles nacionais, como São Paulo e o Rio de Janeiro; metrópoles regionais, como Recife e Porto Alegre; em centros regionais, como Ribeirão Preto, no norte de São Paulo, ou Vitória da Conquista, no sul da Bahia; ou em cidades locais, que constituem a grande maioria das cidades de qualquer país.

    Uma última distinção pode ser estabelecida no que se refere às metropoles. Elas podem se caracterizar como:

  • Cidades globais: aquelas em que se concentra a movimentação financeira, onde se situam as sedes de grandes empresas ou escritórios filiais de multinacionais, importantes universidades e centros de pesquisa. Elas dispõem da infra-estrutura necessária para a realização de negócios nacionais e internacionais, como aeroportos e/ou portos, bolsas de valores e avançados sistemas de telecomunicações, além de uma ampla rede de hotéis, bancos, centros de convenções, de eventos e de comércio.

  • Megacidades: são cidades com mais de 10 milhões de habitantes.

    Sendo o conceito de megacidade meramente populacional, ele pode se mesclar ao de cidade global. Nova York (EUA), Tóquio (Japão) e São Paulo (Brasil) são simultaneamente cidades globais e megacidades. A Europa apresenta diversas cidades globais que, entretanto, não são megacidades: Londres (Reino Unido), Paris (França), Milão (Itália), Frankfurt (Alemanha). A Ásia concentra diversas megacidades que, contudo, não são cidades globais: Pequim (China), Nova Délhi, Calcutá e Mumbai (Índia), Karachi (Paquistão). Na África, Lagos (Nigéria) é uma megacidade.

  • Metrópoles

    Impactos ambientais da urbanização

    Ângelo Tiago de Miranda*
    Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação
    A metrópole - grande aglomeração na qual uma cidade central polariza (política, econômica e culturalmente) uma ampla região constituída de várias outras cidades - é a maior amostra do poder do homem para transformar o ambiente natural.

    De maneira geral, os problemas ambientais se manifestam mais nas grandes cidades, em comparação às pequenas ou ao meio rural. Nesses grandes centros urbanos há problemas ambientais que produzem diversas conseqüências sobre todos os aspectos do meio ambiente natural (como a fauna, a flora, o relevo, o clima e a hidrologia). Além da poluição atmosférica, as metrópoles apresentam outros problemas ambientais, como:

  • Poluição sonora: provocada pelo excesso de ruídos (do trânsito de veículos automotores, indústrias, obras nas ruas, movimento de pessoas, propaganda comercial, sirenes e alarmes, atividades recreativas, entre outras). Isso pode causar danos aos seres humanos, como estresse, efeitos psicológicos, distúrbios neurológicos, náuseas e cefaléias, até a perda da audição.

  • Poluição visual: ocasionada pelo excesso de cartazes, anúncios, propagandas, banners, totens, placas, etc. dispostos no ambiente urbano e que escondem a fachada das casas e dos edifícios - e, principalmente, a paisagem natural.

  • Água e esgotos: devido ao excesso de consumo de água e à poluição dos mananciais (reservas de água) por resíduos domésticos e industriais, os sistemas de abastecimento tornam-se cada vez mais caros, pois quando as reservas locais estão contaminadas é preciso, para abastecer os grandes centros urbanos, transportar água de locais distantes.

    O esgoto também se configura num problema grave, sobretudo nas cidades dos países em desenvolvimento, que não dispõem de redes completas de coleta e de estações adequadas de tratamento.

    Como conseqüência, ocorre a poluição das águas dos rios e córregos, causada pelo lançamento de efluentes industriais e agrícolas - e também de esgotos domésticos, além de outros resíduos sólidos.

    No estudo desenvolvido pelo PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), intitulado "Além da Escassez: Poder, Pobreza e a Crise Mundial do Fornecimento de Água", a agência das Nações Unidas informa que, anualmente, 1 milhão e 800 mil crianças morrem de diarréia (o equivalente a 205 crianças por hora), 443 milhões faltam à escola por doenças causadas pelo consumo de água inadequada e metade da população dos países em desenvolvimento passa por algum problema de saúde dessa natureza.

  • Congestionamentos freqüentes: um dos problemas que tem recebido maior atenção de especialistas e governos é referente ao tráfego e à crescente motorização das populações urbanizadas. Nas grandes cidades, a expansão da motorização individual gerou um aumento nos deslocamentos por automóvel, ao passo que a utilização dos transportes públicos estagnou ou declinou.

    Nas cidades dos países em desenvolvimento, devido à carência de adequados sistemas de transporte público, o uso do automóvel foi privilegiado para os habitantes realizarem seus deslocamentos. Além disso, a expansão das cidades e a conseqüente formação de subúrbios distantes do centro propiciaram o aumento das distâncias percorridas por aqueles que diariamente se deslocam para trabalhar, utilizando, para isso, o automóvel.

    Assim, o congestionamento das vias urbanas de tráfego é resultado da ligação desses dois processos. Vale lembrar ainda os impactos locais ocasionados pelo automóvel, como a poluição do ar, a poluição sonora e os acidentes de tráfego, bem como a infra-estrutura viária construída (pistas expressas, vias elevadas, viadutos, anéis periféricos), que consome amplos espaços, descaracteriza grande parte da paisagem urbana e deteriora parques, praças e áreas residenciais.

  • Carência de arborização: entende-se por arborização urbana toda cobertura vegetal de porte arbóreo existente nas cidades. As árvores desempenham uma importante função nas áreas urbanizadas, no que se refere à qualidade ambiental. A sua falta implica em diversas conseqüências para o ambiente urbano, já que elas realizam a purificação do ar por meio da fixação de poeiras e gases tóxicos e pela reciclagem de gases através de mecanismos fotossintéticos.

    As árvores melhoram o microclima da cidade, retendo a umidade do solo e do ar e gerando sombra; influenciam o balanço hídrico, favorecendo a infiltração da água no solo e provocando evapotranspiração mais lenta; protegem as nascentes e os mananciais; reduzem a poluição sonora, pois amortecem os ruídos; e, finalmente, servem de abrigo à fauna, principalmente aos pássaros.


  •